terça-feira, 17 de novembro de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: A vacina anti-horror: será?


Escrevo este texto no dia 16 de novembro, um dia depois das eleições municipais no Brasil de 2020. Já sabemos os caminhos que as urnas tomaram, comprovando um pouco das pesquisas anteriores, apesar  de estarmos sempre céticos em relação à elas.  Essa, na verdade, me parece uma atitude muito salutar,  a de duvidar das pesquisas eleitorais, de se esperar o resultado para ter qualquer certeza. Isso é bom pelo seguinte: nas últimas eleições, o "já ganhou" atrapalhou muito vários candidatos mais preocupados com o social nas urnas, quando o eleitorado não acreditava que eles perderiam... o que acabou tomando muitos votos, já que "se eles vão vencer mesmo, vou apoiar outro candidato". Isso, somado a um eleitorado que parecia buscar algo diferente mesmo que fosse uma má opção, trouxe-nos grandes derrotas e dissabores, coisas que estamos sofrendo ainda mais nestes tempos, onde uma pandemia tem ceifado vidas. 

Apesar disso, eu olhava as pesquisas e tinha esperanças. Talvez porque eu tenha acabado de ver um filme de natal com a minha esposa, e estes filmes sempre me deixem com esperança na humanidade (os bons , pelo menos). O fato é que quase todas as pesquisas que eu vira, pareciam empurrar os candidatos mais associados com a brutalidade bolsonarista bem para baixo. Aqui em São Paulo, por exemplo, os três candidatos de mais destaque associados a esta política estavam bem abaixo nas pesquisas; no Rio de Janeiro a situação é um pouco mais drástica, com um extremismo em segundo lugar nas pesquisas. Contudo, haviam chances grandes de uma candidata mais humanista ganhar uma chance de segundo turno lá também. 

Eis que os resultados vieram, e cá temos em Sampa um segundo turno de Boulos vs Covas, progressismo e velha política frente a frente. No Rio, as pesquisas também se confirmaram, infelizmente: Paes e Crivella se enfrentam num pleito onde há uma vantagem boa para Paes, que apesar dos pesares não é  um bolsonarista evangélico contumaz, como seu adversário. Ou pelo menos, não parecer ser até o momento: política é volúvel como certas reações químicas, e acordos antes impensáveis acabam sendo só mais uma medida de um dia de trabalho. Em Belém, a terrinha natal, haverá um embate mais direto de ideias: PSOL contra Patriota, projeto de esquerda vs projeto bolsonarista.

E no entanto.... no entanto, minhas esperanças permanecem, amigos. Veja bem, não que as coisas vão mudar para melhor exatamente; Esse trem já partiu a algum tempo, e só volta daqui a muitas rotações da terra ao redor do sol. Tenho esperanças de que os últimos 4, 5 anos, tenham sido um amargo pesadelo, e que o Brasil aos poucos esteja voltando ao seu velho eixo, enlameado e triste, mas ao menos não apodrecido e decadente. Porque se pensávamos que os velhos tempos eram sombrios, amigos, não tínhamos sequer visto o potencial de horror que o brasil - e os brasileiros - podiam chegar.

E essa me parece ser a mensagem que as urnas passam, com seu atraso monumental : chega de horror. Chega de naturalizar coisas que nos fariam vomitar antes. É hora de reconstruir, de tomar uma verdadeira vacina anti-horror, e nos imunizarmos dessa grande doença que é o bolsonarismo no Brasil, e talvez assim nós possamos recuperar um pouco da alma que nos resta ainda. Tarefa difícil, mas necessária, muito necessária: vejamos se 2022 vai poder ser um novo começo. 


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