segunda-feira, 28 de junho de 2021

Crônicas do Novo Normal: Vestígios do Dia


Acho que cada pessoa escolheu, sabendo ou não, algum tipo de hobby para passar um pouco esses dias meio parados da quarentena forçada; alguns escolheram videogames, outros livros, mais uns outros, sei lá crochê.... Agora, que o fim oficial do isolamento se avizinha em São Paulo (já que, de acordo com o calendário que nos foi mostrado, todos devem estar vacinados com a primeira dose até o dia 15 de setembro), tenho observado melhor o que eu mesmo fiz esses dias (além deste blog), e cheguei a conclusão que o que mais fiz foi pensar. 

Esse ato, muitas vezes confundido pelo mundo moderno como uma espécie de vadiagem, é algo um pouco deixado de lado pela maioria das pessoas, justamente por causa desse preconceito. "por que eu ficaria aqui matutando quando eu posso estar produzindo algo", dirão alguns, e talvez estejam certos: afinal de contas, eu não afirmo ser o dono da verdade, ao contrário, tudo que tenho são dúvidas. 

Contudo, em relação ao pensar ser uma vadiagem, creio que muitos avôs e bisavôs nossos serão um exemplo bem oposto a este pensamento. Por exemplo, minha bisavó materna, chamada pela família e, suponho, pelos conhecidos de "Dona Branca", possivelmente é a pessoa que eu mais tenho como emblema de trabalhadora e sobrevivente de uma situação difícil, sendo pobre e criando tanto seus filhos quanto alguns netos, em razão das voltas que este mundo cruel dá.  Ora, uma pessoa que tem que trabalhar tanto não poderia ser nunca chamada de "preguiçosa", e no entanto, quantos pensamentos iluminados ouvi de sua autoria, transmitidos pelos seus descendentes! 

Obviamente estes pensamentos não saíram do nada: foi preciso uma mente parar, organizar os vestígios do dia que lhe ocorreu, e chegar em conclusões a partir disso. Logo, o pensar aqui estava não ligado a uma pessoa parada fazendo nada, mas efetivamente vinda das atividades de seu dia-a-dia. Experiência mais pensamento levam à sabedoria. 

Digo tudo isso porque me parece que, pela pandemia ter feito a gente diminuir um pouco o ritmo das coisas (até porque muitas lojas e entretenimentos estão fechados ou limitado em funcionamento até agora),  talvez estejamos recuperando um pouco esse momento de parar e pensar, que os antigos tinham muito mais do que nós damos crédito a eles. Talvez as pessoas não estejam tendo isso como um hobby exatamente, que nem eu (confesso que eu tenho muito a tendência a me perder dentro de minha própria cabeça...), mas tenho percebido uma postura mais reflexiva das pessoas em relação ao mundo que os cerca.

Talvez essa seja a chave de um mundo novo. 

Ou não!

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Crônicas do Novo Normal: Where is my mind


Há muito o que se dizer sobre o estado mental das pessoas nos tempos atuais, e nada do que se fale será realmente algo que mostre a situação por completo. E nem estou falando de como ficamos durante a pandemia; mesmo antes, eu sempre tive a impressão que temos uma percepção dolorida do mundo que vivemos, e que isso aos poucos vai comendo a nossa mente, distorcendo nossa visão do mundo. 

Ou talvez, eu que seja o pessimista. Sempre é uma possibilidade!

De qualquer forma, acho que é inegável que esta pandemia nos afetou mentalmente a todos de maneiras diversas, alguns mais diretamente (por perderem entes queridos), outros pela pura e simples sensação de isolamento, de vazio da vida. Tenho certeza que todos já vivemos pelo momento do vizinho barulhento em plena pandemia, fazendo aquelas festas altas que são talvez sua forma de gritar que está vivo, que nada teme. Uma estratégia tola, é verdade, mas que muitos seguiram e seguem ainda. 

Outra estratégia, que talvez tenha sido um pouco mais disseminada, foi a de se fechar em si mesmo. E quando digo fechar, não quero dizer  que ficamos sem contatos muito profundos com pessoas ao redor, sem TV ou notícias ou algo assim; apesar de haver realmente pessoas assim, não creio que elas são em maioria. Não, eu me refiro à anestesiar-se mentalmente, buscar dentro de sua própria mente o refúgio dos horrores e estresses que temos sofrido. 

Essa é uma ação um tanto fácil de se fazer: afinal, com a internet literalmente em nossas mãos (graças aos smartphones), não faltam formas de perdemos tempo com redes sociais,  conversas aleatórias em Whatsapp, ouvir música em apps... todas boas formas de se perder em si mesmo, testadas e aprovadas desde antes da pandemia. Alguns nem precisam disso: posso garantir que você conhece uma ou mais pessoas que simplesmente "desaparecem" dentro da sua própria cabeça no meio de uma conversa; são os profissionais de desligamento pessoal, conseguindo flutuar suas mentes quase sem nenhum esforço. 

Falo disso com tranquilidade, porque faço parte deste clube: mais de uma vez eu fugi para dentro de mim mesmo, em momentos que considerei tediosos, confusos ou "carregados" demais emocionalmente. Estes últimos são os mais perigosos: o indivíduo pode ver-se perigosamente viciado em fugir das emoções para dentro de sua cabeça, como se ela fosse uma espécie de bunker protetor contra o mundo. Em momentos drásticos como o que vivemos, pode ser tentadora demais essa fuga, independente de quem tenha ficado aqui fora, esperando o retorno do viajante psíquico. 

Como você foge do mundo ultimamente? 


sábado, 19 de junho de 2021

Crônicas do Novo Normal: Contemplem o Homem Jacaré


Sextas Feiras são, de praxe, um dia feliz para mim. Como não seriam? É o fim de uma semana de trabalhos difíceis (ser professor é bem cansativo...), e o começo do fim de semana, onde posso passar um pouco mais de tempo com minha esposa, me preocupar tranquilamente com os trabalhos da semana seguinte, com quem pode ou não ficar doente desta doença maldita, e com sorte posso parar e escrever um pouquinho no meu caderno de ideias e contos que um dia serão publicados. Um fim de semana típico para mim. 

Esta sexta, porém, foi um dia bem incomum, para dizer o mínimo. Para começo de conversar, eu estava vindo do dia anterior de uma entrevista no canal  de Youtube 1001 Capítulosda queridíssima Sandra Souza; então eu já estava com o humor bem nas alturas. Mal sabia eu que esta sexta seria ainda melhor, pois foi o dia que consegui tomar minha primeira dose da almejada vacina anti-covid. Sim amigos, eis que entrei no clube do jacarezados deste país, ou melhor, entrei pela metade, ainda falta a segunda dose para completar minhas escamas. 

O processo, diga-se, não foi muito fácil: Foi necessário brigar com a burocracia brasileira, antes de mais nada, até conseguir pegar uma declaração da minha comorbidade (asma, para quem não sabe). Então foi uma questão de irmos até a tendinha da Drogaria São Paulo, chegar lá e .... não sermos atendidos, porque a vacina ali já tinha acabado. Sem problemas: andamos, eu e minha esposa, até o posto de saúde ao fim da Avenida Rio Pequeno, que contava com duas filas, uma para preencher o cadastro, e a outra para as vacinas. Não uma visão que se queira ver quando se está nervoso. 

Apesar de tudo, vencemos as filas, as senhas, o ter de falar mais alto que o normal porque a máscara cobre sua voz.... e lá fui eu ser vacinado. Minha esposa, infelizmente, ainda não pôde; a ela caberá a vacina em Agosto aqui no estado de São Paulo. Isso, contudo, não a impediu de chorar muito, e assim ela o fez por um bom caminho até nossa casa. É alívio e felicidade, ela disse. "Por esse tempo todo, eu estava preocupada com você, se você ia ficar doente com isso. Agora eu vejo uma luz".

O amor é engraçado: estou feliz que fui vacinado, mas não consigo me sentir satisfeito, porque minha esposa não foi ainda, nem meus pais e entes queridos, pelo menos não por completo. Assim, acho que minhas lágrimas só devem vir nesses momentos, quando eu ver que realmente o pesadelo acabou. A felicidade só é real quando acompanhada, creio eu.  

Além disso, enquanto eu e minha esposa subíamos a Avenida Rio Pequeno nesta tarde fria de São Paulo, não pude deixar de pensar nas pessoas que se foram sem ter a oportunidade de tomar a vacina também - e é claro que as primeiras que vem à mente são as que lhe são mais próximas. 

Então, em nome dos que se foram e dos que ficaram, tornei-me um Jacaré. Que todos nós possamos ser uma nação réptil em breve, e que esta época terrível comece a ficar um pouco pra trás, para podermos começar a curar uma parte tão devastada quanto nossos corpos: nossas mentes. 



segunda-feira, 14 de junho de 2021

Crônicas do Novo Normal: Meu dia dos namorados, por HG Neto


Chegou o mês de junho e com ele o dia que muitos anseiam, outros detestam, e mais alguns simplesmente não dão a mínima, que é o dia dos namorados. Diferente do resto do mundo, onde se comemora o Valentine's day no dia de, bem, São Valentim (a saber, é dia 14 de fevereiro no resto do mundo), aqui o Brasil comemoramos no dia 12 de Junho, porque João Dória (o pai, não o governador de São Paulo) assim resolveu um período de desaquecimento de vendas no comércio. Assim, como tantas coisas no Brasil, o dia dos namorados já começou inventado na marra e aos poucos foi virando tradição. 

Quem me lê assim pensa que eu tenho raiva da data, mas não é verdade. De fato, antes de ter uma companheira, eu simplesmente achava que era uma coisa que não me afetava, portanto eu nem ligava. Sim, houveram tempos que eu fiquei fazendo a irritante troça com posts românticos que aparecessem em meu facebook e afins, mas isso era menos por ser contra a data e mais porque eu tinha uma tendência a ser um jovem desagradável - como de resto, todo jovem tende a querer ser.  Mas isso mudou desde que conheci Aline, e nesses 5 anos tenho dado muito valor a uma série de coisas que eu jamais prestei atenção antes, entre elas, o ato de celebrar o amor que se tem em sua vida. 

Esse ano não foi diferente; e embora estejamos passando por um... não podemos nem dizer mais pandemia, mas sim uma espécie de trauma coletivo nacional, decidimos fazer uma pequena comemoração de amor aqui em casa. O menu foi algo chique: temos por aqui uma espécie de equipamento para fazer fondue (que é basicamente queijo derretido com vinho), então compramos um bom pão com casca grossa (italiano, por um bom preço), arriscamos a receita e deu tudo certo, graças. Comemos ao som de Maroon 5, que foi meu presente para ela, e usando anéis especiais (com símbolos de lua e sol), que foi o presente dela para mim. O tema, como se deve ter adivinhado, era "presentes que nos daríamos se tivéssemos 15 anos de idade" - acho que ficou claro, pelo menos, pelo cd do Maroon 5

Mas creio que o melhor presente mesmo, quem diria, foi anunciado por João Dória Jr, quando foi dito numa coletiva Domingo sobre o adiantamento das vacinas; nós, que nos vacinaríamos somente em setembro, agora ficamos para Julho. A alegria foi grande é claro, mas em um dado momento, olhando o calendário de datas, senti um peso no peito e pensei, olhando as idades, nos amigos que partiram e não puderam se salvar disso. Olhei para Aline e ela também lagrimava, e não foi preciso dizer mais nada. Nos abraçamos e choramos, choramos com a dor pelos que perdemos, pelo alívio de estarmos perto da salvação, e pelo amor intenso que sentíamos um pelo outro naquele dia, naquele fim de semana, nesta vida.

Lá fora, o dia estava claro e sem nuvens, embora frio. E me pareceu que tudo ia ficar bem mesmo. 

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Crônicas do Novo Normal: Glória ao Sol!

Arte original de Jojonah

Como já disse muitas vezes aqui, estes tempos mais difíceis tem sido uma provação para todos. De fato, um antigo hábito meu, que era o de ver as notícias do dia antes de começar meu trabalho, foi adiado indefinidamente, já que isso simplesmente me fazia sentir mais triste ou mais irritado logo no começo do meu dia. Com isso quero dizer, que a fuga da realidade virou menos uma preocupação, e mais um objetivo: quanto menos se soubesse do que estava ocorrendo ao redor, melhor. 

Contudo, não se pode fugir de tudo para sempre, ainda mais quando estamos numa situação ruim por mais de um ano. Assim, fui forçado a me informar sobre as coisas ao meu redor, nem que fosse para poder saber quando, afinal de contas, viria a vacina. Aqui em São Paulo as notícias eram um pouco mais alentadoras do que no resto do país, mas ainda assim enfrentamos (e ainda estamos enfrentando) grandes dificuldades, de ordem política , econômica e social. Não preciso dizer que a angústia voltou com tudo ao ficar sabendo disso, embora tivesse uma leve esperança, devido aos Butantan e as Coronavac da vida. 

Eis que surge Dark Souls

Para meus leitores que não são fãs de videogames, este é um jogo no playstation, conhecido pelo seu estilo característico de ação planejada , monstros extremamente difíceis de se vencer, e um clima absurdamente depressivo e derrotado. trata-se, afinal de uma história que se passa no fim de um mundo fantástico. Caminhamos muitas vezes, literalmente em cinzas de lugares e pessoas que se foram; enfrentamos monstros terríveis e grotescos; morremos e morremos e morremos diversas vezes. Em média, um jogador "morre" 636 vezes para poder zerar Dark Souls

É uma quantidade muito grande de game overs, e de fato nem todos curtem esse estilo punitivo de diversão. Já houveram até discussões se esses jogos deveriam ter um modo fácil (o que eu sou contra, embora com certeza deveria ter um "pause, que ele não tem). E muitos se perguntam qual a graça de jogar algo que você vai inevitavelmente sofrer para sequer avançar na história. 

Não posso falar pelos outros, mas para mim, jogar dark sousl me fez sumir um pouco do mundo, ao mesmo tempo que me permitia lidar melhor com as emoções que eu estava ( e estou) sentindo. vencer aquele mundo terrível, avançar por ele, encontrar os (poucos) parceiros que ajudam a superar obstáculos... a luta dentro do jogo tornou-se uma maneira de superar meus demônios internos, de certa forma. Cada monstro derrotado é um avanço da escuridão para a luz de uma fogueira, ou do próprio sol radiante da esperança.

Assim como eu, várias outras pessoas encontraram conforto e apoio em jogos, livros, músicas... Menos uma fuga, é uma terapia, suponho. 

Como, aliás, também são esta crônicas. Mas quem pode dizer que isto as faz melhores ou piores que outras coisas? 




domingo, 6 de junho de 2021

Crônicas do Novo Normal: A vida é uma colheita, irmão




Acho que foi Camus quem primeiro enunciou o famoso pensamento existencialista, que diz que a principal pergunta da vida de um homem é se ele vai ou não cometer suicídio - isto é, se a vida vale ou não a pena ser vivida. Ou pelo menos, esta foi minha interpretação; o leitor pode tentar tirar suas próprias conclusões lendo O mito de Sísifo assim que puder, não é um livro grande, e mesmo que você não leia todo, o que importa são as reflexões que se tem com ele. 

De qualquer forma, a pergunta persiste através dos tempos, bons e ruins. Em um mundo com crescentes  índices de violência contra crianças, estupros ocorrendo a cada 8 minutos, e com o aquecimento global deixando de ser uma projeção e virando uma realidade assustadora (e isso sem contar a pandemia que se alastra em nosso meio), é de se imaginar que Camus teria uma grande dificuldade em considerar pontos positivos para sua pergunta final. De fato, no esteio do escritor filósofo francês, há pessoas que dizem que melhor seria, na verdade, nem tentar encontrar pontos positivos. os antinatalistas, como se intitulam, creem que o próprio ato de procriar neste mundo é grosseiramente antiético, e que melhor seria simplesmente optar voluntariamente pela extinção em massa.

Parece uma visão bastante radical, e no entanto não passa realmente da velha questão de suicídio ou não, só que aplicada para a humanidade como um todo ao invés de pro indivíduo. Nesse sentido, talvez devamos tentar ver um outro aspecto: o que se pode argumentar contra o que propõe este antinatalistas e o próprio mundo, quando demonstra sua implacável indiferença contra nós que o habitamos? 

Eu não consigo acreditar na teoria acima, como suponho que muitos leitores devem ter concordado ao ler tudo. Não posso crer em uma morte final da humanidade pelas suas próprias mãos, porque tenho visto a beleza que surge do seio da mesma. Para cada dor, uma alegria; para cada pranto, um sorriso. Não posso deitar-me ao chão e aceitar que o ser humano só traga maldades, quando vejo tantos gerando coisas boas. Talvez por mera teimosia, mas ainda assim: não posso crer num mundo só de tristeza, quando vejo paz e alegria em breves flashes ao meu redor.

Talvez então seja isso a vida: não uma estrada de felicidade que percorremos se fizermos tudo certo, mas uma grande plantação com tempos bons e ruins, vegetação seca ou viçosa. Talvez seja esse então o sentido da vida: plantar os momentos bons e tentar colher eles ali na frente, sempre com o perigo de uma praga, uma geada metafórica, ou algo assim. E ao nosso redor, sempre podem ter as pessoas que ajudam nessa colheita. 

Nesse sentido, como Camus também falou, se vamos seguir nesse grande empurra-empurra  de uma pedra montanha acima só para ver ela descer ao mesmo ponto de antes, tal qual na história de Sísifo, havemos que crer que esse empurrar deve ter momentos de felicidade. Nossa pedra é essa plantação de que falei antes. E a colheita há que continuar. 

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Crônicas do Novo Normal: The farewells


No dia 25 de maio, escrevi uma crônica sobre as pessoas que ajudavam durante esses momentos de crise, sem nunca realmente se destacarem, simplesmente por quererem ajudar. Nela, citei o reverendo Leandro Antunes, da Igreja Anglicana de Santos. Naqueles momentos, ele estava internado, se recuperando do Covid-19. O quadro dele piorou um pouco, e ele precisou ser entubado, mas o prognóstico era bom. Ele estava reagindo bem.

Bem, como tantos casos, a doença foi traiçoeira. O reverendo Leandro partiu deste mundo na madrugada de domingo para segunda feira desta semana, deixando para trás um legado de caridade, paciência, e bom humor. Quando eu conseguir ir em Santos novamente, não sei se a cidade terá a mesma alma: pode parecer estranho (dado que não eramos exatamente íntimos), mas eu sentia que o lado bom de Santos era representado por pessoas como ele, que tanto trabalhava pela cidade, pelo seu rebanho, por assim dizer.

Assim como o reverendo, muitas outras pessoas deixaram este mundo de lágrimas por causa da doença maldita que é o corona. Assim como ele, muitas dessas pessoas deixaram legados para trás; E em algum lugar uma pessoa que seja pranteia sua morte. Pode-se dizer, como ouvi de alguns mais calejados deste mundo agressivo, que estamos apenas vendo pela primeira vez a morte tal como ela é: presente sempre em nossas vidas, ceifando do nada pessoas queridas.

Pode ser, mas não é natural o número de pessoas que tem morrido com essa pandemia; e desta forma, não creio que seja exatamente natural a forma que estamos lidando com essas perdas. Por exemplo, por necessidade de proteção, não podemos nem mesmo velar o corpo com o caixão aberto, dar aquela última olhada no ente querido. Ou ficar com o ser amado em seus momentos finais, para evitar que toda uma família parta junto. 

É muito cruel. Ainda mais porque essas despedidas, ajudam nas outras pequenas que vão acontecendo ao longo da vida que segue: um perfume que lembra uma mãe que se foi; uma piada que algum pai contava de sua maneira própria, agora para sempre um mero eco daquela vida que acabou; uma música na rádio que lembra um filho querido, uma lembrança dele dançando na sala de estar, agora apenas uma foto em preto e branco no baú da memória... todas essas coisas, que nunca somem realmente da nossa mente, que sempre se tornam, cada vez que acontecem, um adeus também. 

Hoje, foi anunciado pelo governador de São Paulo que a população do estado estará completamente vacinada até outubro; talvez em resposta a esta promessa, Bolsonaro disse que a população brasileira estaria vacinada até o fim do ano. Espero mesmo que isso aconteça; estes adeuses à distância tem sido amargos demais.