domingo, 22 de novembro de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: No church in the wild


O Brasil é um eterno cego que não quer ver. É a única explicação, em muitos casos: a corrupção abrangente em todos os aspectos da vida social, a violência que nos sufoca em todas as ruas, o racismo estrutural que nos cerca. Cada dia, essas coisas causam mais uma vítima, mais um corpo a ser jogado na cova rasa das estatísticas.

Todas essas coisas, juntas, são a realidade. São o mundo. E no entanto, por que elas são negadas, principalmente por quem está no poder? Talvez porque seja mais fácil ignorar o problema que se esforçar para resolvê-lo. Se eu não vejo, não existe; e se não existe, por que eu teria de resolver? E assim vamos vivendo, e seguindo em frente. Aos poucos, eu vejo isso mudando em alguns pontos; mas nem de perto tudo que deveria ter mudado.

Por exemplo, se você pegar o jornal hoje, vai ver que uma miríade de pessoas, entre membros do governo e mesmo analistas sérios de contextos sociais, estarão não só negando a existência do racismo no brasil, quanto estarão torcendo o nariz para o que chamam de "vandalismo". dizem eles, que isso não constrói nada, e que acaba "esvaziando" um movimento de justiça que os manifestantes "deveriam" estar buscando. Primeiro que a ideia do que os manifestantes deveriam ou não fazer, é pautada unicamente por um só grupo: o dos manifestantes em si. Comecemos por esse ponto.

Em seguida, a questão do esvaziamento é engraçada, porque implica em dizer que algo estava sendo feito antes para resolver o problema, que havia alguma ação por parte do Estado em resolver o racismo estrutural. Evidentemente não havia, porque senão um linchamento terrível como o de João Alberto jamais teria acontecido, diferente do que imbecis dizem a respeito de ser um caso isolado. E isso estamos falando só desse caso: conforme já foi explicado, a cada 23 minutos um negro morre assassinado neste país. Como pode isso ser coisa normal? Como pode ser encarado pelas autoridades como algo que faz sentido? 

Quando as palavras faltam, a pedra canta. Nunca ocorreria nenhuma ação do Carrefour sem protestos, e fogo, e depredação. O governo nunca vai se mexer em relação a nada, enquanto não forem forçados a se mexer pelo poder do povo, e pelas suas demandas feitas concretas. Que tudo que serve de opressão queime e se desfaça em cinzas. 



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