terça-feira, 10 de novembro de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: Olhar pra dentro, olhar pra fora.


Quem vê até pensa, com todos esses posts de facebook sobre a política dos EUA, que o brasileiro tem como esporte, a política internacional. Só dá pra pensar mesmo, e brevemente: a enxurrada de memes e afins logo mostra que isso não é algo que a maioria das pessoas leve a sério. É claro que existem as exceções, ainda mais num país tão amplamente dividido como o nosso; Em geral, porém, é mais fácil achar alguém que prefira levar questões políticas na gaita que realmente parar e pensar nestas questões. 

Não é difícil de entender o porquê disso. Vivemos tempos desesperadores, e muitas vezes a discussão de assuntos políticos torna-se algo um tanto confirmador de nossas desesperanças. Afinal, o que podemos fazer a respeito? O poder está todo na mão dos ricos e corruptos, os movimentos que temos nada significam, o mundo está acabando... São coisas que nos deixam numa sensação de derrota permanente - o que, diga-se, é perfeito para que quem tem o poder mantenha ele em mãos indefinidamente. 

É essa sensação que permite que situações como a do Amapá esteja ocorrendo agora, nesse momento. 7 dias , ou mais, foi o que levou o governo federal para ao menos reconhecer que há problemas lá. Hoje, nas notícias, foi dito que o Presidente do Senado, Davi Alcolumbre, foi ter com o presidente Bolsonaro a fim de saber que medidas poderiam ser tomadas. E o presidente, como bom representante do espírito brasileiro, estava lá em Brasília, matutando sobre os resultados das eleições dos EUA. 

Nessas horas, muitas pessoas usam o argumento do "em um país sério". "Em um país sério isso não aconteceria"; "em um país sério já haveriam feito algo mais relevante"... Eu não gosto de usar isso, porque acredito que o governo é sim, sério. Seriamente ruim. E as pessoas do país, por sua vez, são ou extremamente hipócritas, ou sem empatia alguma. Porque, no fim das contas, as pessoas só não se ligavam nas questões no amapá, porque não era interessante. Não dava a emoção de participar de algo maior, não dava pra fingir que era estadunidense por uns momentinhos a mais. E portanto, a notícia era sumariamente ignorada. 

Agora veja, uma TV fazer isso, é compreensível, embora moralmente errado: nunca se deve cobrar de emissoras de TV humanidade, já que elas são puramente levadas e guiadas pelo que dá audiência, pelo que lhes rende lucro. mas é justamente isso: se as pessoas tivessem mostrado um interesse maior, talvez houvesse uma cobertura maior disso tudo. Ou se houvesse ocorrido alguma manifestação, qualquer coisa; e não venha me dizer que a pandemia impede isso, não quando eu vejo do lado de fora da minha janela todo sábado festas e mais festas.

O brasileiro médio odeia o Brasil. ele quer que o país seja outro, seja que nem os states, que nem os filmes que ele vê na TV. Engana-se, esse gado, quando pensa que lá não existem problemas também. E não estou dizendo que acompanhar as eleições dos EUA não seja lá algo importante também: somos afinal, o quintal dos EUA, e calha saber se vão jogar lixo ou se vão construir um parquinho em nós, esse vasto terreno de brincadeiras estadunidenses. Mas eu também acho que um olhar interno vale muito a pena. Que possamos levar um pouco disso agora, nas eleições para prefeito, e para 2021 como um todo. 

 

Um comentário:

  1. O brasileiro,em sua maioria,quer ser ou sonha em tornar-se estadunidense e rejeita,"Deus me livre",qualquer hipótese de ser nortista .Triste!

    ResponderExcluir