quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: Raiva é liberdade



O amigo leitor deve saber, que existe uma série de coisas erradas no mundo, e com certeza no Brasil elas se repetem quase ad aeternum. Eu nem mesmo preciso falar quais são as coisas erradas, preciso? Você já pensou em todas. Eu acredito - ou talvez queria acreditar - que mesmo os reaças mais enganados pelos PSDBs, MDBs e CIDADANIAs da vida, tem ainda em si uma fagulha que sente revolta pela corrupção, pelo abandono geral do país, pela esculhambação gritante em todos os lados. "O rico cada vez fica mais rico / e o pobre cada vez fica mais pobre", diriam as moiras em forma de axé que foi o grupo As Meninas. 

(Não vamos falar aqui de PSLs da vida. Esse é um assunto que envolve doença moral, e eu prefiro tratr disso num texto completamente dedicado ao assunto, tragicômico tal qual ele é.)

E como sabemos disso tudo, normalizamos tudo. Eu mesmo já falei disso em momentos anteriores: o principal dom do brasileiro é normalizar as coisas. Tudo é de boa. Morte de milhares de pessoas? Normalíssimo. Dinheiro roubado? Tanto faz, desde sempre foi assim. Tudo de ruim, sempre foi assim, sempre teve que ser assim, sempre será assim. E ai daquele que achar isso estranho: será tachado de inocente, piegas, despreparado para o mundo. 

Bem, eu não sei se você estava esperando que alguém lhe desse permissão para ficar puto da vida, mas considere a permissão concedida. E digo mais: ela não foi dada por mim, e sim por você mesmo, indivíduo leitor deste texto. Qual o problema de ficar puto? Você tem o direito de ficar assim. O mundo está indo para o inferno, e ainda assim, somos forçados a entender nuances, "vejas bems", concessões. Não tem que ter concessão nenhuma, amigo leitor. Sua raiva é verdadeira, e ela merece sair. Não contra sua família, ou seus amigos. Nem contra quem lhe ordenam ficar com raiva: o pobre nas ruas morrendo de fome, o sem-teto, os desempregados. Pense na fonte dos problemas. Pense nos que ganham milhões lucrando com o nosso sofrimento. Pense, e veja se quem merece uma pedrada não é essa pessoa. 

Mas isso é depois. Primeiro, você tem que recuperar seu direito de estar com raiva. Porque estão tomando isso, seu destino, de você. O planeta é uma nave pilotada por homens velhos que vão morrer transando com belas mulheres, e que pouco se importam com o destino que as coisas vão tomar. Porque temos de considerar as ideias deles então?  Por que não podemos nos revoltar contra nossos grilhões, e tentar algo novo? Pense nisso, é seu direito querer algo melhor. Não tolice, não utopia. Direito. 

Fique puto e vá a forra, e que cada prédio quebrado, cada pedra lançada, cada coquetel molotov criado, seja um tijolo pro novo futuro que queremos. Raiva é seu direito. Fique com raiva e vá a luta. 



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