sábado, 28 de novembro de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: Memórias são palavras escritas na areia da praia da vida



Nos dias de hoje as memórias assombram muito mais que antes. Talvez porque elas estejam tão presentes em nossa vida; o próprio Facebook tem um aparto de memória de 5, 6, 10 anos atrás, mostrando seus posts daquele período. E o quanto nós somos diferentes de tanto tempo passado! A pessoa que eu sou hoje, com certeza, iria esmurrar a cara do proto-reacinha que eu era há 10 anos atrás. Nem todas as memórias são ruins assim, é óbvio: recentemente fui agraciado com a memória da primeira vez que tomei sorvete de açaí com banana aqui em São Paulo... e gostei! Eu sei, eu sei: carteirinha de paraense cancelada. Mas é gostoso, que posso fazer? 

Nessas memórias mais agradáveis, a gente acaba associando muita coisa com música. Recentemente eu e minha esposa querida estávamos fuçando o youtube em busca de entretenimento (algo mais difícil que parece, creia-me), quando encontramos os 335 vídeoclipes mais tocados pelos usuários em 2020. Todos, sem exceção, do passado. Óbvio, como já falamos antes, que a pandemia tenha trazido à tona saudades de um tempo sem mortes de milhares pelas ruas. Apenas achei engraçado ver uma miscelânea completa de canções na sequência de vídeos, dentre Maroon 5 a Psy, passando por Shakira. Fiquei pensando em como foi a adolescência dessas pessoas, ou os vinte e poucos anos. Tão diversos dos meus, suponho, que sempre fui ligado a canções mais do passado. 

É inegável, porém, que hajam as memórias ruins. E é bom que elas venham, não? As pessoas tendem a abafar muito as coisas ruins: deve ser talvez o exercício mais praticado pela humanidade em séculos. A crença é que se deve esquecer para seguir em frente. O passado, eles dizem, não importa. Mas eu sou historiador: Só o passado importa para mim, porque o presente e o futuro são prenhes dele. Quem somos, quem seremos, está tudo dentro de quem fomos.

E às vezes, só às vezes, surge uma memória que você não sabe como lidar mais. Não é nem boa, nem ruim: só uma lembrança de um lugar, uma situação, ou uma pessoa, que você estaria certo de ter alguma reação, caso você tivesse visto essa memória um, dois anos atrás. Agora, é como se fosse um fantasma, uma memória de uma foto se apagando. E você não sabe mais dizer se ela acrescentou algo bom realmente a sua vida, ou se você simplesmente está preso a uma nostalgia, esse doce veneno. 

Ainda assim, essas são as memórias que mais aparecem na madrugada da vida. Então, um brinde de café à elas, e que possam ser exorcizadas de vez de nossas cabeças. 


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