quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Crônicas do Novo Normal: As crenças políticas opostas


A gente gosta de fingir que estamos num bloco só de pessoas com pensamentos semelhantes, mas a verdade é que, dentro de um coração, existem aqueles que nós queremos bem mesmo com todas as probabilidades contrárias. Nestes tempos de Crise então, quando começamos a descobrir como indivíduos agem sob pressão, é algo ainda mais dramático essa percepção, porque vemos esses seres humanos fazendo uma besteira atrás da outra, saindo nas ruas quase que agarradas uns nos outros, sem proteção sem vergonha na cara. 

E eu sei bem como é ver isso e se frustrar; porque , quer queiramos, quer não, essa pessoas, esses queridos idiotas, fizeram parte da sua infância, ou adolescência, ou o que seja. Bem ali, o seu tio, que estava do seu lado te apresentando quadrinhos e desenhos; mais adiante, um pai ou mãe que foram essenciais em moldar seu caráter. Talvez também não seja algo tão dramático quanto um familiar: talvez, mesmo, seja um velho amigo que tornou-se trumpista sabe-se lá Deus por que, já que nem estadunidense o sujeito é; ou um amigo bolsonarista que insiste em defender cloroquina quando nem mesmo o presidente o faz mais. 

Essa é uma questão que não acontece só aqui: há relatos e relatos de pessoas nos EUa que perderam praticamente seus entes queridos para aquela pataquada toda de Qanon, e a crença que Donald Trump, o milionário, estava lutando pelos mais pobres contra os capitalistas. Óbvio que desde ontem um monte de crenças caiu por terra e alguns estão aos poucos buscando entender que sim, eles foram enganados. Outros porém, recusam-se a admitir a derrota, e prometem ficar ainda mais radicais os anos seguintes. E eles tem suporte: neonazistas literalmente estão se mostrando de braços abertos para eles serem acolhidos e despejarem sua fúria contra minorias. 

E nesses momentos precisamos saber o limite que temos. Não é possível querer salvar a alma de quem não quer nem sequer ser salvo, ou nem mesmo admita que precisa de ajuda. Ainda há pessoas com esse pensamento, de tentar mudar a cabeça dessas pessoas, de acolhê-las antes de grupos como neonazistas, mostrar um pouco de compaixão. E eu não nego que isso seja possível, tentar ver como um extremista chegou a seu atual ponto de vista. Mas não posso dizer que haja simpatia. Não podemos esquecer que essas pessoas, direta ou indiretamente, apoiam medias políticas opressoras extremas, só pelo mero ato de "ganhar" uma discussão contra pessoas que eles discordam. Que apoiam ações de extermínio, quando dizem que não deveria haver julgamentos e sim execuções sumárias. Que pouco ou nada se importam com as pessoas que morreram de covid, porque se o fizessem, teriam muito mais compaixão que o que demonstram. 

O ente querido que se radicalizou está, pelo menos por hora, perdido. Diga tchau, e deixe ele seguir o caminho dele, por mais que doa. Se um dia ele vier para um caminho mais iluminado, terá de ser pelos seus próprios passos.

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