quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Crônicas do Novo Normal: A reforma eterna




O vizinho de cima bate bate bate o martelo, enquanto escrevo este texto agora à tarde. Ou talvez seja o de baixo, não sei bem, confesso que são tantas marteladas que posso ter perdido o senso de direção um pouco. Quem quer que seja, não se pode queixar de sua pontualidade e obstinação: ele começa a martelar forte exatamente às 9 da manhã e assim segue até umas 17 e vinte, quando começar a martelar de leve num esforço vão de parecer que não está fazendo barulho. 

Quem está lendo esta crônica pensa: ora Alfredo, ele deve estar ajeitando a casa num momento pós-pandemia! Não foi você mesmo que disse que devemos olhar para frente , etc e tal? E eu digo para você que sim, eu concordo, mas que o vizinho não está reformando desde o começo de 2021; ele está na verdade martelando desde 2018, ano em que me mudei! Agora as coisas estão um pouco mais intensas, mas as marteladas são uma característica deste bloco do condomínio desde que nos mudamos. 

Ou talvez eu esteja sendo injusto: afinal, também houveram os momentos da furadeira, das desmontagens de algo que caia no chão o tempo todo, do som de móveis sendo afastados, do cheiro de tinta que misteriosamente aparece no meu banheiro sem ele sequer estar sendo ajeitado.... A lista segue intensa, e interminável. São tantos os barulhos, que eu meio que já consegui fazer uma lista dos meus favoritos, o big hits "Barulhos do vizinho": Em primeiro lugar está os móveis desmontando (que pelo menos ecoam menos pelo nosso apartamento), e em último a furadeira, óbvio, porque a própria parede vibra junto. 

Com certeza você que me lê deve ter passado por algo parecido, e deve ter tido sua estratégia para lidar com isso; de minha parte, tentei ligar para pedir silêncio, o que funcionou um pouco. Mas agora, eu confesso que virou uma espécie de trilha sonora incômoda de certos dias da semana (em especial Sábados). Então sigo minha vida de projeto de escriba e professor, enquanto o vizinho bate bate bate, não na porta do Céu, mas na sua própria, possivelmente mudando ela por outra. E assim seguimos vivendo. 


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