quinta-feira, 30 de julho de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: Ode ao professor Raimundo

Fonte: Site Observatório da TV

Sou um homem de sorte. Além da minha vida pessoal ser linda neste momento, obrigado, eu tenho trabalhado com algo que gosto muito, que é ensinar Inglês. Para quem não sabe, sou formado em História, mas tenho uma vasta experiência como professor de Língua Inglesa, ao ponto de poder dizer que tenho mais experiência como professor de inglês, que de História, curiosamente.Ou não tão curiosamente assim, já que fui eu mesmo quem buscou este caminho.

Foi uma profissão que sempre me encheu os olhos, a de ser professor. Pode-se dizer que tenha havido aqui alguma influência dos meus pais aqui: Minha mãe, particularmente, certamente foi uma pessoa que me inspirou a ser professor. Muito da minha postura como profissional devo a ela, das observações que fiz de seu trabalho ao longo dos anos que moramos juntos. Não tudo, é claro: Ainda sou uma pessoa um tanto, digamos, laissez faire no que diz respeito à organização de documentos e coisas mais burocráticas que nós professores precisamos fazer. Mas com certez,a o melhor de mim como professor,, devo à Dona Gleice.

Hoje trabalho como professor à distância, especificamente via Zoom e skype, como muitos colegas devem estar fazendo em tempos de Covid-19. Não digo que tenha uma vida fácil. De fato, há dias que parece que nunca estive tão cansado como quando dou 3 aulas direto . Mais cansado até, do que se tivesse feito as mesmas aulas em sala de aula: Li em algum lugar que o foco de uma pessoa trabalhando no computador home-office é redobrado, porque o indivíduo fica mais facilmente distraído pelas coisas e pessoas ao redor: filhos, animais de estimação, campainha tocando ao longe.  Se assim for, isso explica porque todo dia acordo ainda mais cansado que o dia anterior.

Mas apesar disso sou sortudo, muito sortudo, porque tenho amigos que são professores regulares, e que além dessa tensão toda, ainda encaram a idiotice de donos de escolas querendo reabrir seus estabelecimentos em plena pandemia. Donos que só pensam no lucro, se recusando a ver  a suprema estupidez e risco que é reabrir um ambiente onde jovens e crianças vão necessariamente conviver além dos limites estabelecidos, e que carregarão a doença para seus lares, onde dançaremos mais uma vez a dança da morte que tanto convivemos neste primeiro semestre de 2020. Hoje mesmo ouvi falar de um dono de escola que foi fazer uma carreata clamando pela reabertura das escolas: é a definição de estupidez.

Ainda assim, lá estão os professores , com todas as reclamações sobre ter de usar uma tecnologia de forma quase improvisada, sem qualquer treinamento por parte das escolas; tendo de praticamente tornarem-se youtubers para manter a atenção de jovens francamente entediados e em choque com a situação de um mundo em declínio; e se preocupando consigo e com seus entes queridos, posto que são humanos como todos nós. Sim, lá estão eles, e este pequeno texto é só mais uma forma de homenageá-los, embora eu saiba muito bem que o que seria melhor era respeito e um salário justo.

Um dia amigos, quem sabe um dia. 

3 comentários:

  1. Tenho pensado tanto nos professores. Realmente tens sorte de não ser contratado de nenhuma escola e não precisar obedecer a esses chefes estúpidos. Pelo visto, a escola pode até voltar a funcionar. Mas a educação dessa gente não voltará, se é que ja tiveram algum dia...

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  2. Muito real, meu amigo. A realidade dos professores do Brasil nunca foi tão difícil quanto agora. Estamos à mercê das vontades dos donos de escola e dos governantes que ouvem tudo, menos a nossa opinião. Somos tratados como louça descartável, se quebrar tem outra pra substituir.

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  3. Houve um tempo,é verdade,no qual os professores eram até mais respeitados que as autoridades e estas também demonstravam o mesmo sentimento em relação aos mestres.Esse tempo ficou para trás,hoje nos vejo como a Geni do Chico Buarque,"joga pedra na Geni ,joga bosta na Geni (...)

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