quinta-feira, 16 de julho de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: Reflexo do passado

Fonte: Getty Images


O Facebook, vocês sabem, tem uma coisa que se chama "lembranças". Você também tem, estou certo, mas as do Facebook são diferentes: ele mostra pra você algumas publicações antigas (sejam fotos, textos, ou um link qualquer), e pergunta se você quer compartilhar isso. Algumas  não precisava nem perguntar: é deletada na certa. Outras são mais suaves, e bonitas: essas são as que mais mexem com a gente. Nesses dias, que estamos presos em casa, as memórias podem ser as melhores fugas que temos.

Mas nem sempre é o que ocorre. Pois é fato que ao passar do tempo, mudamos dia a dia, ano a ano ; e a nossa versão anterior é uma casca que vai aos poucos se rachando, e dando lugar à nossa versão atual, que também irá dar a lugar a uma versão futura, num ciclo que prosseguirá até a nossa partida. E quando somos confrontados com uma versão anterior de nós mesmos, é posssível que surjam uma série de emoções: a mais comum é vergonha, seguida de perto por vontade de rir alto de si mesmo.

Quanto a mim, não sou exceção à regra: é muito comum eu ver surgir nas lembranças da rede social, opiniões que eu tinha, e piadas bizarras que eu fazia, que não condizem em absoluto com quem eu sou hoje em dia. Veja, até mesmo um passado reacinha eu relembrei - não sem passar uma absoluta vergonha própria de como a desinformação me levava a ter um posicionamento agressivo por nada. O vinho da juventude é amargo com nossos erros; muito melhor é o frescor da limonada de nossa Experiência.

Mas sempre me pergunto, quando vejo isso: qual conselho eu daria ao jovem Alfredo neto? Será que o advertiria dos dissabores que viriam ao longo dos anos? Ou as alegrias que viriam adoçar sua vida, que em muitos momentos parecia não ter fim em angústia? Não sei. Só sei que ele provavelmente não me ouviria e me mandaria pra bem longe. Ainda assim, há em mim uma ternura inescapável, e a vontade abraçar a mim mesmo do passado é grande: Pois, naqueles dias, eu não sabia ainda como sentir a vida.




2 comentários:

  1. Me veio uma sensação igual outro dia. A de que nem mesmo tudo que vivi foi suficiente. Viver é pouco para uma vida só.

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  2. Lembranças: as máquinas do tempo poéticas :)

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