sábado, 11 de julho de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: INSANITY

Arte de Sebastian Eriksson

Ouça. A cidade está perdida. Está ouvindo? Ninguém está comemorando nada. As festas que você ouve são gritos de desespero. Sim, mesmo aqueles urros de prazer no meio de um funk. São pedidos de socorro. Acredite em mim.

Por que está tudo perdido? Isso exigiria uma aula de História, não uma crônica. As pessoas costumam brincar que o brasil se perdeu por volta de 1500, querendo dizer que tudo começou a dar errado com o "descobrimento" do Brasil. Elas não estão erradas. mas acho injusto jogar toda a responsabilidade da insanidade humana no Brasil. Se muito, somos produos de séculos e séculos anteriores de loucura e descaso da humanidade. Se você for um monumento histórico na Europa, e perguntar às paredes o porquê de tanto sofrimento.... elas não dirão nada. Porque paredes não falam. Portanto, pare de ser tonto e leia um livro de História: ali sim, você vai ver o quanto as alucinações mentais seguiram o caminho das pessoas como um cão fiel, devorando os restos de caos que deixávamos em nosso rastro.

E o que é a definição de insanidade? Bom, Einstein falou que é repetir a mesma coisa, de novo e de novo, esperando um resultado diferente. Na verdade ele não disse isso: foi a autora Rita Mae Brown. Acho que é uma coisa que podemos parar de repetir de novo e de novo. Mas quem quer que tenha falado isso, ele/ela estava certo. Se tudo se repetir, nada muda.  A mesma dor, a mesma comichão em cometer erros. a mesma esperança errada. Tudo se repete.

A saída, portanto, seria mudar os caminhos que fazemos as coisas. E isso é mais difícil de saber do que parece. Afinal de contas, tecnicamente já se tentou todos os caminhos anteriores e sempre com resultados negativos. Alguns dizem até que Bolsonaro é a resposta do brasileiro para se tentar de tudo na política nacional, esquecendo de pensar que ele é uma resposta tanto quanto esfregar um pedaço de merda numa prova é uma resposta. Mas eu divago, eu divago.

Em meses de quarentena, olhando para um teto fatalisticamente branco, assistindo séries com minha esposa, brincando com gatos, eu creio que encontrei as mudanças. E veja você, elas são especificamente isso mesmo: brincar com gatos, abraçar a pessoa amada, olhar para um teto branco. Pois veja, antes de tudo isso, eu não era uma pessoa muito presente em casa. Talvez fisicamente eu fosse; mas a mente estava sempre a um passo de me preparar para a aula no dia seguinte. Nisso, o home office tem ajudado bastante: tenho tido tempo para existir. E essa foi a mudança maior para mim (embora não desprovida de uma série de questionamentos. Como o presente neste texto)

Talvez as coisas sejam mais ligadas a pequenas mudanças que grandes. Talvez o mundo já esteja perdido mesmo. Pessoalmente, eu acho que sempre esteve; mas também acho que as melhores mudanças vem em pequenos pacotes. Uma bolacha nova que você comprou; uma atividade bacana que você resolveu iniciar. Tudo isso são chaves para fugir das repetições, do ciclo de tédio até a morte. A chava da mudança é a pequena.

Ou isso, ou o meu anti-alérgico bateu fundo aqui.

Um comentário:

  1. Nestes tempos tenebrosos precisamos nos REINVENTAR DIARIAMENTE se assim não fizermos a cabeça não suporta.

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