domingo, 19 de julho de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: Fugere Urbis

Fonte: http://mayoorange.blogspot.com/
E de repente o velho ciclo alcança outro aspecto: a fuga pros interiores. Não que a situação esteja melhor por lá; de fato, se considerarmos São Paulo, as coisas estão indo de mal a pior. O governador recentemente disse que grande parte das cidades estavam no chamado "nível vermelho", e será necessário se organizar uma estratégia para atender as pessoas afetadas pelo Covid-19, de novo.

Se a realidade aponta para uma situação matematicamente pior nas cidades interioranas, por que o fascínio da fuga da cidade, nesses tempos difíceis? A bem da verdade, o conceito em si não é novo, mesmo em tempos mais modernos. Desde algum tempo tenho visto mais e mais pessoas buscarem uma vida "tranquila" e se mudando para lugares mais bucólicos - ou pelo menos com a fama de assim serem. Muitas dessas pessoas, de fato, fazem o movimento de retornarem para suas cidades natais, ou talvez a cidade natal de seus pais e avós. Há sempre alguma estrutura ali que os abrace, seja familiar, seja da memória.

Mas, como eu disse, o plano não é novo e remota a tempos feudais mesmo, quando da queda do Império Romano e da fuga das pessoas para interiores, refugiando-se nos feudos (que antes eram propriedades rurais das elites urbanas). O porquê naquela época era evidente : os "bárbaros" invadiam os portões de Roma, e tudo saqueavam. Era necessário buscar uma espécie de segurança entre novos muros, ou talvez um esquecimento por parte da turba invasora, que talvez se contentasse com os saques nas cidades e deixasse seguir em relativa paz os refugiados campesinos.

Não tanto a questão da segurança (que, como vimos, é bastante discútivel, pelo menos no que concerne o Corona vírus), mas muito mais pelo segundo fator, é que eu acho que as pessoas veem no campo seu refúgio ideal: a visão de que ali, longe da turba enlouquecida e sem máscara, a doença passará como uma tempestade desafortunada, e tudo mais ficará em paz, bastando apenas resistir um pouco.

Não posso deixar de manifestar minha discordância desse pensamento, mas também não posso culpar as pessoas que o tem. Pois a verdade é que até eu mesmo busco a paz em lugares diversos esses dias... e em certos dias azuis, quando olho ao horizonte a infinidade de prédios a se perder de vista em São Paulo, fecho os olhos, sinto o vento ao meu redor, e imagino um longo caminho de árvores e verde, com o vento sacudindo as folhas, numa sonata natural.

Nenhum comentário:

Postar um comentário