terça-feira, 14 de abril de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: Canções e canções


Se você deixar, o isolamento pode te levar à destruição mental. Na verdade, até se você não deixar, ele pode fazer isso - ninguém consegue realmente controlar o quanto um isolamento pode influenciar você. O que fazer portanto? A ordem é controle de danos.

Uma das formas que eu mais consigo fazer isso é com música. E muito há que se dizer ainda das músicas relaxantes como panaceais para acalmar uma mente confusa e agitada. Minha esposa e eu somos grandes fãs desse tipo de música: recentemente pusemos aqui uma canção da Enya e a paz que reinou na sala de estar só foi quebrada pela luta incessante dos nossos dois gatos a pular um sobre o outro. Mas por gloriosos 15 segundos, houve paz naquele recinto.

Outro tipo de música que ouvimos muito juntos aqui é o pop anos 80, que inclusive é um outro que merece um estudo a parte. Há algo de fascinante naquelas músicas tão melosas e chicletentas existirem num momento, numa década, que as coisas pareciam solenemente estar indo para um fim, seja este nuclear ou econômico. Somente uma época assim (antes da nossa atual, claro) poderia fazer canções de amor falando sobre fim do mundo e explosões atômicas com tamanha maestria e canastrice...

Contudo, confesso que nem a World Music, nem o pop 80's são os que mais me levam para um estado de calma mental. O estilo escolhido para esses momentos é nada menos que o BREGA , com todo seu bole-reboles, seus Frutos Sensuais, seus Nelsinhos Rodrigues e Wanderleis Andrades. Quanto a isso, tenho uma explicação: por experiência própria, e por conversar com meus amigos desterrados aqui pelo eixo Sul-Sudeste, tomamos o brega como nossa canção de exílio, não importando qual  letra que seja. Basta apenas os primeiros acordes de um teclado enlouquecido ou um baixo romântico, e voltamos aos momentos na terrinha, bons ou ruins, mas nossos.

Talvez seja esse o segredo do brega comigo, o porquê de eu cantar a plenos pulmões pérolas como "Eu Voltarei", "Gringo Lindo", ou "Ao pôr do Sol". Quando canto, e danço desajeitado pela sala (para espanto e deleite de minha amada esposa), estou na verdade viajando, na memória, para os cantos onde mais me senti seguro. Longe das incertezas e dores do agora. Acho que posso ser perdoado, dado o momento atual, por um certo romantizar do passado.

Qual a sua forma de fuga disso tudo ao nosso redor?


PARA OUVIR: Desejos, de Banda Sayonara

PARA OUVIR 2: Ao Pôr do Sol, de Teddy Max

PARA OUVIR 3: Conquista, de Wanderlei Andrade


2 comentários:

  1. Já te vejo a dançar e tua AMADA ESPOUSA a rir.Isso é muito bom ❤️

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  2. Literatura. Ler até cansar de segurar o livro. Ontem refleti bastante sobre isso deitada na cama. Na paz que é poder ler um livro por prazer ao lado de quem se gosta.

    Música também funciona muito bem.

    Obrigada pelo texto e por dividir seu bálsamo.

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