sábado, 11 de abril de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: Paranoid

(Fonte: Site Shutterstock)

E de repente, não mais que de repente, eu me sinto ansioso com o mundo. Não é algo que seja realmente incompreensível: de fato, nos dias de hoje, não sentir alguma coisa errada em si é que caracteriza um problema psicológico, ao contrário do que digam por aí.  Aliás, existem tantos semi-deuses andando por aí, inabalados pelo seu entorno, que é difícil até pensar em admitir ser humano, demasiadamente humano. Ou talvez o que haja sejam hipócritas mesmo - vai saber.

É errado de minha parte dizer que a ansiedade veio com a pandemia. Na verdade ela é uma velha inimiga, à espreita nas sombras, esperando o momento certo para dar o bote. Começa como um pensamento insistente - será que tranquei a casa direito ao sair? Será que conseguiremos pagar todas as contas esse mês? - e aos poucos, ele vai tomando a mente e o dia todo. Se você não tomar cuidado, ele toma toda boa parte de uma semana, ou mesmo bem mais tempo que isso, dependendo da sua estrutura para aguentar.

Aí vem o choro (de raiva, de impotência), a sensação de esmagamento na cabeça (no meu caso, bem ali na nuca), às vezes um formigamento... receita perfeita pro desastre em um ambiente que pode-se sair às ruas, dirá em um momento de isolamento social. Nisso, uma vez mais sou abençoado com a companheira dos sonhos - que me acolhe em seu colo, entende minhas lágrimas, me nina até eu me acalmar. Também eu faço isso por ela, quando o mundo lhe exige mais que o razoável. Acredito que isso seja o que um casal deva fazer em tempos de crise -e se não for, bem, é o que eles DEVERIAM fazer.

Mas eu toquei nesse assunto, porque me parece cada vez mais as pessoas tem sentido o peso da quarentena, e a sensação da ansiedade deve pesar forte em suas cabeças. A respeito disso devo dizer: não se sintam mal. Se há um momento para estarmos ansioso, é esse. Não prestem atenção nos semideuses, preste atenção em si mesmo. Permita-se sentir, mas não se permita levar pela onda maligna. Chore, se tiver de chorar: cada lágrima, um conforto mais próximo. Depois respire, olha para o céu, e pense no que o espera não em um mês, um ano, um dia e sim em algo bom para fazer em um minuto. Cada avanço na nossa vida, é montado minuto a minuto, "polegada a polegada", parafraseando Al Pacino. Permita-se percorrer estas polegadas, e não se culpe por tropeçar nas pedras do caminho.

Rumo ao fim disto tudo, amigos.


PARA OUVIR: Paranoid

PARA LER: Litania contra o medo





Um comentário:

  1. Todos nós de um jeito ou de outro somos ansiosos, mas realmente esses dias tem aflorado mais. A minha estratégia é viver um dia de cada vez, agradecendo a cada novo nascer do dia, a cada canto de um pássaro. A fé me sustenta e em breve voltaremos a normalidade da vida.

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