segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: A falta eterna



Nicete Bruno morreu, a nossa "eterna Dona Benta", como diriam (e talvez tenham dito) os jornais na Globo e afins. Morreu de Covid-19, aparentemente depois de uma única visita, mesmo com todos os cuidados, mesmo com todas as questões. Que importa? Ela se foi, tomada pela peste. Seus familiares pranteiam sua morte. E seu quarto, seu lugar na mesa, estará para sempre vazio dela. 

Falo aqui da atriz, mas quero mesmo é, através dela, falar sobre as pessoas que partiram esse ano, tanto as do Covid, quanto as que partiram por outros motivos (embora o Covid seja uma causa grande das mortes). Ainda mais nessa época, de natal, que independente do que pensamos a respeito, tende a ser uma época de juntar a família, amigos, pessoas queridas. Não esse ano, porém: ainda temos que tomar muito cuidado e nos prevenir, manter-nos em nossas bolhas de segurança, apenas com quem sabemos estar livre da doença. 

É claro que muitos vão fazer festas grandes chamar todo mundo, e que se dane a sociedade; mas não quero falar dessas pessoas, elas não precisam de mais atenção que já lhes foi dada. Quero aqui, falar das pessoas que sofrem, nos lares vazios de um, duas pessoas. Quero sentar e conversar com cada pessoa que chora a morte de seu ente querido, que olha vazio para um canto, e sente a saudade que não passa, nunca passa. A dor que nunca acaba, a saudade que não se resolve, o abraço que jamais poderá ser dado de novo. E falo com eles, porque ninguém está falando. Certamente não o governo, mais preocupado com ganhar um jogo político vão que em realmente buscar ajudar as pessoas; muito menos a grande mídia, que parece mais preocupada em juntar fatos que possam servir de ferramentas para seus propósitos. 

Menos ainda os que muitas vezes estão ao seu redor, dizendo que é tudo uma invenção, que é um exagero. Ou quando dizem que "é preciso ser forte", que "não adianta nada chorar", que "agora é seguir em frente". Ninguém quer ouvir nada disso nessas horas, mas é o que muitas pessoas acabam tendo que encarar em meio à dor. Acho que nós passamos anto tempo tentando ser fortes e não ser esmagados pelo mundo, que ficamos insensíveis ao sofrimento alheio, e vemos isso como uma fraqueza. Então, o apoio vem com incentivos a seguir em frente, esquecer,  sacudir a poeira, viver os 3 dias de luto legais da carteira de trabalho e continuar. Como se o mundo dos sofredores fosse normal depois de tudo que passaram. Como se fosse fácil seguir em frente, sem nem ao menos prantear direito. 

Eu não tenho poder nenhum, sobre os direitos trabalhistas, sobre a humanidade, sobre nada. No entanto, gostaria de dizer aos que leiam isso e precisem (que são todos. Em algum momento na sua vida, você vai precisar chorar): Nunca retenha suas lágrimas. Chore, e lamente a falta de quem não está mais aqui. "o mundo continua", como dizem os que querem lhe dar forças, mas o SEU mundo, por hora, acabou um pouco, então nada mais justo que lamentá-lo um pouco, só mais um pouco. Conforme uma grande mulher disse certa vez: quando lhe disserem "siga em frente", olhe nos olhos deles e diga "No meu tempo". 


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