domingo, 6 de dezembro de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: 33




O momento do aniversário de um indivíduo é sempre um motivo de celebração, para a sociedade. Festas de aniversário, não é? Festeja-se o nascimento com muita comida, bexigas, bolo, etc. Acho que é uma tradição que vem da infância, e na verdade de muito antes, se considerarmos o contexto histórico: Heródoto já falava dos aniversários fantásticos dos persas, como se faziam festejos e festejos nestas datas. tenho certeza que na própria Grécia antiga isso já acontecia.

O motivo é óbvio:  você sobreviveu! Ainda mais em tempos passados, onde esse feito era realmente notável: com tantas guerras, fome, pestes, etc. Você conseguir chegar ao próximo ano de sua vida era , mais que um fato especial emocional, uma demonstração de capacidade de sobrevivência! E tudo o que se quer após uma batalha pela vida, é comemorar. É só ver os planos por momento pós-covid: festas, encontros, viagens (Eu sei que tem gente fazendo isso mesmo sem a doença ser contida. Vamos ignorá-los neste momento). 

Já eu... bem, eu nunca tive uma relação boa com os aniversários. Sim, eu gostava deles quando criança, mas ao passar do tempo, comecei me sentir, de uma certa forma, sufocado pelo que eles representavam. O tempo passando não era mais algo legal para mim: antes, eram uma espécie de bomba-relógio que eu supostamente tinha que desarmar, e as ferramentas para isso seriam minhas conquistas. Que por muitos anos, eu achei que fossem poucas. Acho que todo jovem se sente assim, atrasado na sua própria agenda, e sem entender que a cobrança vem muito mais fortemente dele mesmo que dos outros. 

Fiquei assim por um bom tempo, e ainda lembro do último aniversário que pensei assim, que foi em 2015. Naqueles tempos, eu era um lobisomem juvenil, e o mais solitário dos lobisomens paraenses a andar por São Paulo. Foram tempos difíceis, em 2015. E no dia do meu aniversário, que eu estava ainda pela Pauliceia Desvairada (em um ou dois dias, eu iria viajar para Belém), eu decidi que o próximo ano seria diferente. Que eu não mais ia me cobrar tanto, e que iria ser mais verdadeiro comigo mesmo. Que não haveriam arrependimentos mais nos aniversários, somente reflexões. 

Não posso dizer que cumpri 100% o que me prometi naquele dia: de fato, eu me tornei mais honesto comigo mesmo (o que pode ou não ter contribuído para eu encontrar com minha esposa amada, finalmente), mas confesso que ainda sinto o impulsionar do autojulgamento. Ainda mais agora, que completo os famosos trinta e três anos, a idade falsa de Cristo (já que, de acordo com Cauê Moura, ele na verdade tem 2020 anos). É uma idade forte de cobranças: onde está sua casa própria? Onde estão seus filhos, sua família gigante, seu emprego mega bem-pago? 

Contudo, amigo/a leitor/a, eu aprendi durante esses anos, que não se deve lutar contra essas emoções. Ao contrário: devemos senti-las em sua plenitude... e deixar passar. Como ondas no mar, diria Lulu Santos. E assim eu fiz, e assim eu venho aqui e digo: estas conquistas virão. Mas elas não importam agora, não como uma cobrança. Importa que caminhei a firmes passos rumo a isso, e a tantos outros sonhos. Importa que sobrevivi, tal qual nossos antepassados gregos e persas, num ano de uma epidemia brutal, num país brutal. Aqui estou, com 33 anos, e que os 34 sejam ainda mais gloriosos!

Embora, se eu puder pedir algo, que sejam um pouquinho menos agitados. Por exemplo, talvez sem uma pandemia global? Seria ótimo, obrigado desde já. 

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