quinta-feira, 29 de abril de 2021

Crônicas do Novo Normal: "Cinema é a fraude mais bonita do mundo"


A temporada de premiações do Oscar passou, para completo desprezo de muitos que já entenderam que o Oscar fala menos da qualidade do filme que do espírito que a Indústria Cinematográfica anda carregando em si naquele período específico. Houve um tempo que eu adorava ficar noite adentro, arriscando até umas aulas perdias na escola, para poder ver a premiação; isso passou, e então me permiti ver filmes que não estavam necessariamente no radar da Academia - para a felicidade meu enriquecimento pessoal, com certeza. 

De qualquer forma, a tradição ficou, e eu sempre fico um pouco mais nostálgico de pensar em cinema, nesses dias, mais perceptivo de algumas coisas que assisto também. Os tempos ajudam, é claro: o que mais se pode fazer num fim de semana com a cidade enfrentando uma pandemia, que não seja combinar um filme de streaming com a esposa e ficar assistindo? Não muito, isso posso garantir. E de qualquer forma, esse é um dos nossos passeios quando o mundo não está se acabando: ir ao cinema. Lembro que o último filme que vimos antes da pandemia estourar foi 1917, no cinema do shopping Eldorado ali de Pinheiros, famoso pelo som agradável e pelos tickets não serem um assalto direto ao bolso. 

Antes de sair com a minha esposa, eu também já era um grande frequentador dos cinema paulistanos: Fui algumas vezes no Cinearte do Conjunto Nacional (que tinha fechado em 2020 e agora voltou como Cine Marquise) ver alguns filmes mais cabeçudos; e também fui frequentador do Cine Petra Belas Artes, mas nunca consegui participar de nenhum festival de filmes noite adentro que eles fazem ás vezes. Um projeto para o pós-pandemia, talvez. 

Antes disso, o meu point era um cinema artístico em Belém do Pará chamado Líbero Luxardo. Quando penso nesse cinema, a memória que me vem são de filmes japoneses agressivos e estranhamente filosóficos, películas europeias dos anos 70/80 que causam mais sensações que fazem sentido, e uma trilha sonora de rock gótico/ post-punk que eu costumava ouvir no ônibus, voltando para casa a noite (as sessões sempre eram de noite), escondendo o celular da melhor maneira possível para não ser roubado. 

É estranho pensar nisso, o quanto das minhas memórias com os filmes e os cinemas envolvem tanto os filmes em si, quanto as experiências antes e depois de ir. Talvez porque eu pense a ida e a volta do cinema como partes integrantes da sensação como um todo. Nunca consegui desligar do impacto do que assisti assim que o filme termina, sempre levei algo da tela comigo por um bom tempo.... talvez seja isso o que eu sinto mais saudade em relação a filmes nesta pandemia: a viagem de ida, cheia de empolgação e antecipação, e a de volta, com todas as emoções que isso acarreta. 

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