terça-feira, 13 de abril de 2021

Crônicas do Novo Normal: Baile de Máscaras



Em todas as casas brasileiras, tornou-se parte da rotina a lavagem de máscaras em suas respectivas áreas de limpeza. Algo que antes, era visto como um costume pitoresco asiático, tornou-se um cotidiano de milhões de brasileiros - pelo menos os que se preocupam com o próximo e fazem este pequeno esforço de usar a máscara, para o bem de todos e felicidade geral da nação (parafraseando Dom Pedro I). 

Elas vem em todos os formatos e cores, embora o modelo tenha meio que uma indicação só. E até mesmo no começo de nossos isolamentos, houve toda a discussão de qual seria o modelo que melhor protegeria a população, ou mesmo se a máscara seria em si útil. Ao fim e ao cabo, cá estamos, com toda sorte de proteções faciais: recentemente, indo buscar umas compras no portão do prédio, vi um casal  com máscaras azul e rosa, num bonito paralelo de cores bonitinhas. Leveza em meio à angústia, nós temos aqui.

Esses acessórios são um grande aborrecimento para muitos, mas eu confesso que gostei bastante quando começamos a usar. Não pela ocasião, obviamente; mas eu creio que junto com a máscara, veio uma liberdade que eu desconhecia, de mim em mim mesmo. Explico: Percebi que usando a máscara, não só protegia a mim e ao meu semelhante da doença, como também protegia a minha psique. Sou um homem inquietamente tímido, embora não pareça para quem me conhece (os paradoxos da intimidade...). A máscara veio e me permitiu andar sem estar consciente de mim mesmo. E então, me senti em paz. 

É claro que não é algo lá muito saudável, e com certeza eu creio que deva explorar isso melhor com o incansável Dr. Pedro, meu terapeuta. Ainda assim, isso me fez pensar muito, em quantas pessoas se sentem como eu... e quantas máscaras elas usam neste momento. Quando as coisas ficam difíceis e elas sentem vontade de chorar, usarão elas uma máscara para cobrir suas lágrimas? Quando um companheiro ou companheira sentem-se abatidos pela imensidão da morte que nos cerca, usarão eles uma fachada de otimismo e coragem, para que não afundem todos neste desespero? 

Será que nossos dias adiante serão cheios de máscaras, físicas e metafóricas?


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