A chuva tem visitado a cidade de São Paulo com uma certa constância - pelo menos, onde moro. Ali pelas 14, 15 horas, o céu verte suas lágrimas. Da varanda do meu apartamento, eu vejo o horizonte: nuvens carregadas despejando suas águas, o sol uma lembrança distante, a noite mais próxima que nunca.
Assim é na vida real. Mas é de outra tempestade que estamos falando, uma mais simbólica, que causa uma chuva mais intensa, mais devastadora. Pois para muitos, faz tempo que não é verão, nem primavera, mas sim esse fim de outono - início de inverno que tem se alastrado pelo país, pelo próprio mundo melhor dizendo, no inconsciente coletivo. Como transeuntes, que estão presos em um telhado vagabundo e sujo longe de casa esperando a chuva a passar, olhamos atentamente para o nosso céu interno, e qualquer sinal de diminuir a chuva já nos basta para querermos seguir em frente. Afinal, é preciso chegar em casa e se secar, seja aonde for este lar.
Infelizmente, tal qual estes mesmos transeuntes, sempre nos enganamos: a chuva não pára, pelo contrário, só aumenta. Então começam as buscas pelo sentido da coisa continuar do jeito que está. Muitos culpam Deus nesta hora, e é certamente a desculpas mais fácil, pois elimina toda a culpa do indivíduo. Se Deus quer que chova e eu me molhe, quem sou eu para negar seus desígnios. O patriotismo e a religião são o último refúgio dos covardes.
Alguns outros culpam seus companheiros de telhado, por torcerem para que a chuva aumente (por mais absurdo que possa parecer); alguns outros tentam seguir com guardas chuvas para mais perto de casa, mas é uma água forte, é muito difícil seguir em frente. Mais uns outros ofertam guarda-chuvas para ajudar quem não tem nenhum... às vezes, essas próprias pessoas acabam se molhando por causa desse gesto de caridade.
Tantos gestos, tantas atividades e ainda assim.... a chuva segue incólume, independente de quem seja o culpado e de qual seja sua ação frente à ela. Se pelo menos pudéssemos ajudar uns aos outros, termos mais pessoas interessadas em querer que todos atravessem a tempestade o menos afetados possível... mas não é assim, e não sei se um dia chegará a ser desse jeito.
E assim seguimos navegando na chuva grossa, incapazes de sequer entender a solidão dos companheiros de sofrimento ao lado.
Bom texto. Continue a escrever.
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