domingo, 7 de fevereiro de 2021

Crônicas do Novo Normal: O Clube do Sorriso Triste



Ter depressão é como estar  morando no próprio Hotel Califórnia dos Eagles: você pode fazer o check-out a qualquer hora, mas nunca consegue realmente sair. Existem dias que está tudo bem, e você segue a vida sorrindo... mas basta um pequeno empurrão em uma direção norte ou Sul, que tudo desanda, como se a sua sanidade estivesse esse tempo todo equilibrada por um palito de dente que acabou de se partir. 

Com o passar do tempo, você começa a perceber as pessoas na Tv que tem também, ou que pelo menos estão a caminho de. Nunca falha: os olhos caídos, a expressão específica de quem está com chuva na alma. Não é , veja bem, uma tristeza; é antes um vazio que nada se planta, uma terra infértil que se estende por quilômetros e quilômetros. A tristeza vem sim, pelo menos no meu caso; mas aí é só ela que você sente, só ela que preenche a lacuna que se sentia anteriormente. E aí, você meio que deseja não estar sentindo nada de novo. 


Então você vê essas pessoas, e talvez elas sejam artistas. E quando você ouve as músicas, ou vê os quadros, ou lê os livros, é como se estivesse ali finalmente tudo o que você queria representar e não conseguia. Como se tivessem lido os seus diários todos, e transformado em algo para todo mundo ver. E sabe? Pelo menos para mim, não é vergonhoso. É meio que libertador na verdade: lembro quando eu quis demonstrar para as pessoas como é a minha visão (eu uso óculos para 3 mil coisas ao mesmo tempo), eu pedia que elas abrissem os olhos debaixo de uma piscina e tentassem enxergar. Essa arte existir  é mais ou menos isso em uma escala muito maior. Eu posso finalmente mostrar para alguém que eu queira e dizer: aqui estou eu, este é meu coração. 

E aí você tem a certeza, aquela pessoa é dos seus, membro do grupo mais doído do mundo, e que está aceitando membros diariamente. Pode ser que 2020 tenha afetado mais do que pensamos, mas eu não posso pôr a culpa dessa situação toda em um ano só: estamos com cada vez mais participantes aqui na nossa agremiação desde muito tempo. Não sei dizer porque, acredito que hajam profissionais de saúde mental que possam explicar isso muito melhor do que eu. 

Só sei dizer que, estes dias, parece que o mundo quer mais e mais gente nesse melancólico agrupamento.  

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