terça-feira, 30 de junho de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: Em algum lugar do futuro


Eu e Aline começamos a ver a segunda temporada de Dark. Já tinhamos visto a primeira a algum tempo atrás, acho que foi em meados de novembro, dezembro. Aí, seguimos para ver outra série, outra coisa assim. Não somos fominhas de "zerar" uma série de uma só vez, ainda mais algo complicado como Dark; antes, preferimos ver a temporada e digerir mentalmente a coisa toda, ver se lembramos o diabo do nome de tanta gente loira e branca tudo parecida, e depois ver como seguimos adiante.

Até aqui, a temporada tem sido boa, rendendo uns bons nós na cabeça, e olhadas entre eu e minha amada esposa, quando não entendemos lhufas de que época as coisas acontecem, aonde está acontecendo, quem está falando, etc. No mais, é mais simples que seguir a política brasileira atual. Na verdade, acho que ser brasileiro é uma vantagem enorme para ver a série: estamos acostumados a um emaranhado de pessoas fazendo bostas monstruosas ao longo dos tempos. Chamamos isso de História Nacional.

Mas eu vim aqui falar do que eu fui pensando ao ver Dark, e foi exatamente sobre tempo. Iria eu, caso fosse possível voltar ao começo deste ano, avisado a mim mesmo de alguma coisa, me ajudado a me preparar melhor? Com certeza eu teria avisado meus pais para não comprarem a passagem para me visitarem em Abril, viagem essa que, lógico, nao foi realizada e que não sei muito bem se houve reposição do dinheiro gasto pela companhia aérea para meus pobres pais. Talvez avisasse a mim mesmo para aproveitar e ir num parque o quanto antes com minha esposa; tínhamos, por aquelas alturas, acabado de voltar do Espírito Santo, numa viagem de família com minha sogra, cunhados e sobrinho, e eu estava muito empolgado para viajar mais e conhecer a natureza. Adiei um pouquinho demais, infelizmente. Por outro lado, sem dinheiro, tudo é adiado. Perguntem ao meu óculos velho.

Mas e seu eu pudesse voltar ainda mais, eu pensei, será que mudaria algo mais profundo na minha vida? É uma questão difícil. Nieztche mesmo, falando do Eterno Retorno, propunha a questão se, caso vivessemos a mesma vida infinitas vezes, se isso seria algo bom ou um castigo horrendo. Somos formados pelas nossas escolhas passadas: quem eu sou foi formado pelos meus erros, infortúnios e tragédias do passado, junto com as vitórias também, é claro. E a verdade é que, com todo meu sofrimento passado, eu não consigo me imaginar outra pessoa, o que implica em dizer que eu não consigo me imaginar mudando as coisas de antes. Mudar uma coisa aqui ou ali implicaria eu nunca conhecer, por exemplo, minha esposa, e isso já é um preço alto demais para mim.

Assim, fico com meu humilde eu de agora mesmo. Sou feliz com obstáculos tipicamente brasileiros - e o que mais eu poderia querer? A única mensagem que eu ia mandar para meu eu do passado seria: "Cara, pode me acreditar,tu vai ser putamente feliz!"

"Ah, e joga cinquentão no macaco do jogo do bicho, tu vai me agradecer"

2 comentários:

  1. Uma das caratcerísticas que eu mais gosto das suas crônicas é o humor.
    É um prazer te ler, meu amor.

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  2. Ótimo texto mas só me lembrou que não passei da primeira temporada por não conseguir diferenciar um alemão do outro

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