domingo, 16 de maio de 2021

Crônicas do Novo Normal: Flores de Plástico



Quando eu era criança, percebi um estranho fenômeno que acontecia com os desenhos que eu curtia: cada vez que um deles fazia um sucesso razoável, era certo que apareceriam dois, três, 100 outros desenhos que tentassem imitar alguma coisa da produção anterior. Para cada Tartarugas Ninjas, havia um Motoqueiros Ratos de Marte ou algo assim; para cada cavaleiros do Zodíaco, um Samurai Warriors, e assim sucessivamente. 

O motivo disso acontecer era um mistério para meu eu infantil, mas é claro que o tempo e a maturidade me ajudaram a perceber que o que acontecia ali era, pura e simplesmente, ganância, a corrida pela nova "mina de ouro" do entretenimento. Não é que houvesse um interesse em especial dos produtores em se propagar a mensagem ou o estilo ou o que fosse da obra original; na verdade, eles mal entendiam bem o que fazia desta algo bom. Simplesmente copiavam o que conseguiam e torciam por um sucesso econômico. Pura lógica do mercado. 

Por anos, eu pensei que isso se aplicava apenas à indústria do entretenimento (já que vi o padrão se repetir em jogos,  filmes, etc). Em 2013, porém, foi quando tive minha verdadeira lição sobre falsidades, e de como outros se aproveitam dela, sem entender a mensagem original. 

Se você lembra bem, 2013 foi o ano dos protestos, o ano que uma briga pelo aumento de passagem em São Paulo estourou em movimentos por  todo o país, e, muitos dizem, culminou na total sacanagem que hoje estamos .Não que se soubesse disso na época, ao contrário: de fato, confesso que eu mesmo acreditava no movimento, ao ponto de cobrir pelo twitter as passeatas que ocorreram em Belém do pará, e de participar de rodas de discussão em plena Praça da República (lugar que muitos conterrâneos confirmarão, NÂO é o melhor para se ter discussões em rodas, quanto mais não seja pela chuva iminente da região). 

Minha crença se estendeu até o dia que vi anúncios de lojas de roupa com "roupas para protesto", quase uma nova tendência, a Chique Rebelde: bandanas de anarquia, camisas pretas vestidas em manequins de punho levantado, tênis especiais para caminhadas longas... a total deturpação de um movimento que já estava fazendo isso muito bem por si só. Aquilo me aturdiu bem fortemente: percebi que a partir do momento que já haviam até roupas sendo vendidas para protestar, aquilo efetivamente derrotava o protesto antes mesmo dele começar a marchar; Nada é mais pró-mercado que comprar seu Kit movimento em 6 vezes sem juros. 

E foi aqui que o círculo se fechou, pois percebi que, tal qual os desenhos que surgiram para copiar os primeiros que fizeram sucesso, também ali se criava um neomovimento, sem alma, sem pensamento em cima do que se estava buscando, só caos pelo caos, ou pior, pelo retrocesso, pela virulência dos idos dos anos 60/70. A revolta era tão real quanto a de um personagem de desenho, quando dublado para sentir raiva. 

Nas costas dessa falsidade, construímos nosso país atualmente. Não é novidade nenhuma: O brasil sempre foi um país baseado na mentira, nas falsas impressões na enganação. E por isso hoje seguem os dias, com pessoas clamando por isolamento social ao mesmo tempo que saem e fazem festas; políticos exigindo respeito à constituição que eles mesmos rasgaram; cristãos que rezam direitinho na hora do culto e zombam direitinho do sofrimento alheio, daquele que deveria ser seu próximo. 

No brasil, tentam nos dar flores de plástico e forçar-nos a dizer que as mesmas tem perfume. 

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