terça-feira, 30 de março de 2021

Crônicas do Novo Normal: Mindscape


De quando em vez, me pego pensando nos caminhos não trilhados da vida. Não com falsa nostalgia ou por infelicidade em meus dias atuais: sou muito feliz com minha vida agora, vivendo ao lado de uma companheira guerreira e carinhosa, com quem divido dramas e risos já fazem uns bons 5 anos. Não, eu me pego pensando justamente pelo contrário: estou interessado nas milhares de formas que eu poderia ter trilhado um caminho assombrosamente errado, danoso.

Esses eram muitos. As pessoas que me amam não gostam de me ouvir falar isso, mas a verdade é que , seguindo meus desígnios antigos, é muito provável que eu estivesse em uma situação pior do que estaria agora, isso se estivesse realmente em uma situação que eu pudesse me considerar eu mesmo ainda. Pois o caminho que eu escolhi quando saí de Belém do Pará era uma trilha de estudos, mas era antes de mais nada uma trilha de fuga. E depois que eu consegui fugir? Aí, não havia mais objetivo maior, exceto estudar no mestrado, e ver o que o futuro trazia. 

A mente é um lugar lindo para se explorar, mas é terrível se perder dentro dela. E era o que eu estava fazendo em meados de 2015; vagando dentro da minha própria cabeça. Sim, eu saía pela noite, e bebia e buscava companhia, e magoava outras pessoas que só queriam companhia também. Mas acima de tudo, eu estava dentro da minha cabeça, e só queria ficar só ali dentro. Ali, eu não me machucaria; ali, o mundo fazia sentido, porque eu criava o sentido das coisas, por mais torpe que fosse. 

As coisas mudaram muito desde então, é claro. Creio que consegui me salvar o suficiente para seguir outros caminhos, e poder ter a chance de conhecer pessoas maravilhosas, sempre citadas nestas crônicas. No entanto, eu sempre penso no que eu poderia ter feito comigo mesmo, se não tivesse seguido esse caminho. No quanto as coisas pareciam sombrias e estranhamente, tranquilas naqueles dias, quando eu preferia a ilusão da minha mente à realidade fria das ruas de São Paulo. 

Me pergunto quantas pessoas estão assim agora, não por terem se mudado, mas por estarem presas nestes dias infames, onde a morte é cotidiano, onde não se pode ter certeza de como o país estará no intervalo da manhã para a tarde. Quantas pessoas, eu pergunto às ruas vazias, estão tão presas dentro de suas cabeças quanto eu estava naqueles tempos? 

E, por mais contraditório que isso possa parecer, eu também me pergunto: Será que elas não estão melhor ali dentro que aqui fora, conosco?


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