domingo, 10 de maio de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: Someday, you will return



Você se lembra da última vez que saiu de casa sem apreensão do Covid-19?

Minha quarentena começou dia 7 de março, e não tenho saído de casa desde o dia 30 do mesmo mês. Muita tensão nisso; minha esposa e eu ficamos preocupados demais, tensos demais com a morte iminente no ar. É uma sensação difícil de explicar, realmente. É como se, nas sombras, houvesse um predador observando cada passo que você dava, cada deslize. Mesmo naqueles dias (que agora sabemos , era apenas o começo), sentíamos isso bem forte. As pessoas nas ruas, que ainda eram muitas, pareciam como que uma paródia de cotidiano comum: seu andar despreocupado era desmentido pelas faces tensas, as máscaras firmes no rosto, as lojas ao redor fechadas.

Alguns dias se passaram, e ficamos observando estupefatos os avanços da doença, como isso ia mudando aos poucos as coisas ao nosso redor. E no entanto ainda haviam ruas com festas perto de nós: ao longe, ouvíamos a música forte chegando, as risadas, luzes. Era a última dança, ou talvez apenas um grupo de pessoas que não acreditasse na gravidade da situação. Num país onde o próprio presidente se recusa a querer compreender o quão sério tudo se encontra, infelizmente não seria de se estranhar essa mesma postura entre civis.

Então, veio o silêncio. É claro, não em todo lugar. Ainda lemos sobre festas e "pancadões" em alguns lugares de Sampa, pessoas abençoadas por não terem sido infectdas ainda. Mas aqui perto de casa,o silênco tem sido frequente. E nao precisamos parar pra pensar muito o porquê, nós sabemos. Não foi a polícia, não foi a conscientização pela TV: Foi o Covid. Aprendizado pela dor.

 E assim estamos nesses dias cinzentos. Mas às vezes, olhando da janela, conseguimos ver o sol de uma maneira peculiar, e olhamos as árvores mais verdes, os pássarosque cantam e não ouvíamos antes. E isso nos faz lembrar dos tempos que íamos em parques, e planejávamos viagens com a família, ríamos juntos de besteiras. Lembramos dos lugares que fomos, e das emoções que sentimos. Das pessoas que aquecem nosso coração, e estão longe, longe de nós.

Algum dia iremos voltar lá, naquele lugar especial, com aquela(s) pessoa(s) que amamos. E quando formos, não será com medo e apreensão, mas sim com amor e vitória, ganhadores que somos desse grande presente que nos foi dado, chamado VIDA.

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