segunda-feira, 4 de maio de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: Nostos

Fonte: https://rafaelneko.tumblr.com/post/55140600217/sekai-ninja-sen-jiraiya-fanart

Não sei se vocês sabem, mas a rede Bandeirantes, no alto de sua sabedoria ou talvez apenas buscando cobrir um horário um pouco vazio nesses dias pandêmicos e cinzas, resolveu voltar a exibir  Jaspion, Jiraya e Changeman, nomes que eu tenho certeza que alguns leitores deste blog abandonado só ouviram falar ao longe, por alto, talvez quando um irmão mais velho (ou mesmo um pai, vai saber) citava saudoso os programas que gostava de ver quando jovem.

Eu entendo, é claro: o tempo, dizia Cazuza, não pára, e os programas que muitos tem como queridos de suas infâncias são muitas vezes radicalmente diferentes do que fãs de tokusatu (O nome dessas séries cheia de japoneses fantasiados pulando de um lado pro outro, para quem não sabe). Veja você, a minha esposa tem um conhecimento enciclopédico dos desenhos e programas infantis da TV Cultura durante todos os anos 90, às vezes lembrando com carinho coisas que eu nem sequer me lembro de que existiam - e ela só tem dois anos a menos que eu! Se duas pessoas da mesma geração conseguem ter uma diferença tão grande de nostalgia com programs infantis, imagino que esse abismo seja ainda maior entre gerações bem diferentes. 

Ainda assim, creio que todos vão entender o que é sentar em frente à TV e voltar no tempo. Sim, prezados e prezadas, porque é isso que aconteceu hoje quando finalmente revi essas séries, sentado na cama, tomando café com a minha esposa ao lado. Minto, talvez tenha sido melhor que antes: agora eu tinha uma companhia com quem comentar, sorrir e brincar a respeito da tosquice rolando aberta nas séries, o que tornou tudo ainda mais especial. Cabelos mullet,(d)efeitos especiais, monstros de borracha... Eram séries infantis, claro.Mais que realismo, eu creio que a buscar era mostrar um pouco de aventura e fantasia para as crianças japonesas, com as brasileiras por tabela   

Talvez por isso elas sejam até hoje tão charmosas. O ar é meio de fábula: há sempre uma história que termina dentro do próprio episódio, e apresenta uma moral ao fim. O herói sempre vence - mas nem sempre sua vitória é necessariamente doce, ou todos necessaiamente terminam felizes. Mais do que esconder as coisas ruins de sua audiência , Jiraya, Jaspion e outros mostram-nas de uma forma que ele possa entender, e eu acho que isso é a maior forma de respeito possível com um público infanto-juvenil. 

É esse tom que me faz sentar ainda hoje e assistir, é claro; mas confesso que uma grande parte de mim também assiste, porque quer reviver por uns poucos momentos, as glórias de ser uma criança e não ter que me preocupar com tantas mortes, tanto medo e terror. Por breves 20, 40 minutos, sou novamente um pequeno nerd olhando atento para a tela, acreditando nos heróis que ali estavam, e aprendendo como é que se poderia, afinal, construir um mundo mais forte, justo,  e amável.

2 comentários:

  1. Sentadas à frente da tv,tinhas uma mesinha e cadeirinha ambas de plástico,coloridas e tua bandejinha com um copo de suco,um Danoninho e biscoitos e não podemos esquecer que tinhas os bonecos que lutavam fora da tela,em tuas pequenas mãos, indo e vindo no ar.Sinto saudade desse tempo,meu filho, quando teus dias eram azuis ❤️😘

    ResponderExcluir