quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Crônicas do Novo Normal: Elegia ao padeiro itinerante


 

Dias de Segunda e Sexta, graças a um acordo da síndica aqui do condomínio onde moramos, vem aqui uma padaria vender seus salgados, doces e, é claro, pães. Eles também vendem manteiga. frios e sucos, mas confesso que o preço é tão grande que nem me passa pela cabeça comprar deles - e por conseguinte, acabo sempre considerando eles bens de consumo "extras", e não necessariamente como parte integrante dos produtos da padaria. 

Sempre que a padaria vem, ela é representada por um senhor em específico, que devido a comprarmos muito de lá, acabou por lembrar de nosso nome, e o mais curioso, de nossos gostos "padeirísticos"; de fato, ele até mesmo já chega no condomínio falando que trouxe nosso produto favorito, caso nos veja passeando ali pela entrada do portão.

- Ô Alfredo, hoje tem pão integral hein? 

- Aline, não se esqueça de pegar seu bolinho de chocolate hoje hein? 

- Vocês não acham que sexta feira combina com aquela quiche de alho poró que vocês gostam tanto? 

Pois o padeiro, veja vocês, lembra até mesmo que a nossa alimentação não leva carne, e que a maior parte do que compramos envolve mais queijos e coisas assim (exceto os sanduíches "delicinha" que eu compro por vezes. Minha perdição sempre serão os embutidos). 

Talvez seja praxe isso, lembrar bem dos clientes mais assíduos e de seus gostos, mas confesso que fiquei tocado pelo esforço deste homem, em realizar tamanha tarefa. Pois veja, aqui não é o único lugar que a padaria fez acordo para vender seus pães e delicinhas; certa vez, ele me confidenciou que eles ainda passam por mais 2 ou 3 condomínios ao longo da semana, aonde ele também tem (presumo) clientes assíduos, e por conseguinte, também deve se lembrar das preferências deles. 

Até mesmo nossa falta ele sentiu, pois, devido à uma certa reeducação alimentar que estamos empreendendo aqui em casa , não tenho comprado tanto pão quando normalmente, nem mesmo os sanduíches "delicinha". Pois o bom mestre padeiro percebeu nossa falta; e qual não foi nossa surpresa quando eu, finalmente, fui comprar algumas coisas neste entreposto moderno, e fui recebido com: 

- Bom ver você, Alfredo! Hoje não tem muito pão integral, mas ainda tem pelo menos três aqui pro café de vocês!

Serei eu um emocionado? Talvez. Mas confesso que, nesses tempos tão tristes, um pouco de calor humano (mesmo que devidamente calculado), me fez sorrir um pouco mais.



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