terça-feira, 7 de setembro de 2021

Crônicas do Novo Mundo: 07/09/21

 

Entre 2000 e 2003, eu estudei numa escola militar, chamada Rego Barros. Trocadilhos à parte, era uma escola muito boa (embora eu, como bom indivíduo voltado às ciências humanas,  tenha tido problemas graves com a matemática e seus amigos). Além disso, tudo ali seguia num certo aspecto de liberdade, exceto em uma coisa: toda sexta-feira nós tínhamos que cantar o hino do Brasil. Éramos organizados militarmente em filas (com direito até à  palavras de ordem específicas), em frente à bandeira, e enquanto um de nós subia a mesma lentamente, cantávamos o hino com a mão no peito. Depois, seguíamos para a sala de aula, em fila, como formiguinhas obedientes. 

Já naquela época, eu me perguntava o porquê de cantar o hino. Porque veja, essa canção é uma coisa importante no sentido de sentir orgulho do país, isto é, como uma forma de exaltação da pátria. Eu não sentia absolutamente nenhuma razão de me orgulhar do Brasil, tal qual fosse um filho adorando o pai ou mãe. Não conseguia discernir nada que o país tivesse feito particularmente, que implicasse eu sentier orgulho dele. Claro, ele tinha (e tem) lugares lindos, mágicos mesmo; e a quantidade de pessoas boas e talentosas que temos é muito alta, em vários aspectos; apesar disso, aquilo não me parecia exatamente obra e graça de serem brasileiros, e sim de alguma outra coisa...que eu não sabia dizer o que era. 

Anos depois, quando eu já estava na faculdade estudando História, percebi o que era a peça que faltava em minha compreensão: todas aquelas coisas boas que eu via em algumas viagens e em fotos, todas aquelas pessoas talentosas que ali estavam, não existiam por sere brasileiras: elas existiam apesar de serem brasileiras.A história destes lugares, atletas, artistas, era sempre algo de superação contra um país que se recusava a deixar que algo assim existisse no país.

(É claro que aqui, eu pelo desculpas pela minha mente jovem: eu ignorei completamente o fato da cultura ajudar em muitos aspectos, e da questão de lugar no mundo, etc...)

E assim, chegamos no dia de hoje, 7 de Setembro, um dia de independência.... de que? nem nossa independência foi conquistada, e sim dada pelos colonizadores, e o novo país governado pelo príncipe herdeiro. Hoje, temos um presidente que se compraz do sofrimento de outros, e que zomba da morte de milhares. O desespero está tanto que estamos vendo pessoas implorarem nos açougues por ossos para sopa - coisa que os bolsonaristas diziam que só acontecia na Venezuela. E na TV, lá vai ele e seus seguidores, comclamando um golpe por sentirem sua liberdade ameaçada. E passam ao lado de pessoas dormindo nas ruas, miseráveis destruídos pela política assassina de pessoas que não se importam. Nunca se importarão. 

E tudo que eu posso fazer a respeito neste momento é lamentar nestes escritos. E me sentir feliz de sobreviver, aos trancos e barrancos. De não estar também na fila, pedindo pelo amor de Deus por um osso para melhorar minha sopa.

Mas comemorar? Me orgulhar?

Não se comemoram vitórias sombrias.

2 comentários:

  1. "- Vamos celebrar nossa bandeira, nosso passado de absurdos gloriosos..."
    Sim, eu citei um trecho de Legião, e é chocante como essa letra se encaixa hoje.

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