quinta-feira, 3 de junho de 2021

Crônicas do Novo Normal: The farewells


No dia 25 de maio, escrevi uma crônica sobre as pessoas que ajudavam durante esses momentos de crise, sem nunca realmente se destacarem, simplesmente por quererem ajudar. Nela, citei o reverendo Leandro Antunes, da Igreja Anglicana de Santos. Naqueles momentos, ele estava internado, se recuperando do Covid-19. O quadro dele piorou um pouco, e ele precisou ser entubado, mas o prognóstico era bom. Ele estava reagindo bem.

Bem, como tantos casos, a doença foi traiçoeira. O reverendo Leandro partiu deste mundo na madrugada de domingo para segunda feira desta semana, deixando para trás um legado de caridade, paciência, e bom humor. Quando eu conseguir ir em Santos novamente, não sei se a cidade terá a mesma alma: pode parecer estranho (dado que não eramos exatamente íntimos), mas eu sentia que o lado bom de Santos era representado por pessoas como ele, que tanto trabalhava pela cidade, pelo seu rebanho, por assim dizer.

Assim como o reverendo, muitas outras pessoas deixaram este mundo de lágrimas por causa da doença maldita que é o corona. Assim como ele, muitas dessas pessoas deixaram legados para trás; E em algum lugar uma pessoa que seja pranteia sua morte. Pode-se dizer, como ouvi de alguns mais calejados deste mundo agressivo, que estamos apenas vendo pela primeira vez a morte tal como ela é: presente sempre em nossas vidas, ceifando do nada pessoas queridas.

Pode ser, mas não é natural o número de pessoas que tem morrido com essa pandemia; e desta forma, não creio que seja exatamente natural a forma que estamos lidando com essas perdas. Por exemplo, por necessidade de proteção, não podemos nem mesmo velar o corpo com o caixão aberto, dar aquela última olhada no ente querido. Ou ficar com o ser amado em seus momentos finais, para evitar que toda uma família parta junto. 

É muito cruel. Ainda mais porque essas despedidas, ajudam nas outras pequenas que vão acontecendo ao longo da vida que segue: um perfume que lembra uma mãe que se foi; uma piada que algum pai contava de sua maneira própria, agora para sempre um mero eco daquela vida que acabou; uma música na rádio que lembra um filho querido, uma lembrança dele dançando na sala de estar, agora apenas uma foto em preto e branco no baú da memória... todas essas coisas, que nunca somem realmente da nossa mente, que sempre se tornam, cada vez que acontecem, um adeus também. 

Hoje, foi anunciado pelo governador de São Paulo que a população do estado estará completamente vacinada até outubro; talvez em resposta a esta promessa, Bolsonaro disse que a população brasileira estaria vacinada até o fim do ano. Espero mesmo que isso aconteça; estes adeuses à distância tem sido amargos demais. 

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