sexta-feira, 22 de maio de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: O sol se põe vermelho, como o sangue, e completamente despercebido




(Agradecimentos à amiga Tamyris pela frase que nos deu o título e a foto de hoje)

Existe uma certa libertação em não se ver mais a TV por um tempo, especialmente nesses dias tão complicados. era algo que eu fazia de uma forma um tanto religiosa: ligar a Tv em algum momento do dia, buscando entender quais os próximos passos a serem evitados. Aliás, isso é algo que tem definido nossos dias, não planejar fazer algo, e sim evitar fazer algo. Uma vida baseada em negações.

Mas eu falava da TV, e de fato temos feito muito isso aqui em casa, simplesmente não ver mais as notícias. Algumas pessoas poderiam acusar-nos de estar tentando tapar o sol com a peneira, afinal, de que adiantat evitar saber de uma determinada coisa, se ela nos cerca em toda sas interações ao redor? Contudo, é por isso mesmo que temos evitado os telejornais; simplesmente, as notícias são tão intensas, que acabam chegando ao nosso conhecimento de uma forma ou de outra. Impossível seria não chegarem, não é mesmo?

O que temos feito então? Ah, uma série de coisas. Compramos um jogo de tabuleiro de  detetive, e jogamos ele todo Sábado. Aline faz duas xícaras de capuccino, botamos um jazz misterioso, e jogamos nosso joguinho (Soctland Yard:Máquina do Tempo, para os interessados). Depois disso, assistimos alguma série ou filme policial: temos nos absorvido em séries com investigações esses dias, não sei dizer por que.

Já em nossas atividades sozinhos, Aline de vez em quando assiste uma série no Netflix que lhe interesse (em geral algo em espanhol); eu costumo ler algo ou jogar um jogo de aventura no velho laptop. Tenho recuperado meu prazer nos velhos point-and-click possíveis de se jogar um em pobre notebook que já foi molhado, jogado no chão, e que perdeu as teclas de digitação. Buscamos fazer coisas sozinhos, para visitar nossas mentes em paz. Eu acho que se você não der tempo a sua parceira para ela ser ela mesma, você está perdendo a melhor coisa de se ter alguém consigo, que são as descobertas do dia-a-dia.

Além disso tudo, gostamos de sentar e ouvir músicas, e pensar... por vezes, a musica guia nossos pensamentos, e posso ver minha esposa olhando para dentro de si, lembrado algo bom, talvez, ou mesmo apenas sentindo o ritmo. Quanto a mim, também faço isso, mas sempre me vejo olhando para a noite (ou quase noite) lá fora, e vejo que ignorei o céu por tanto tempo, que ele me parece algo novo agora, toda vez que o observo nesta quarentena. E com a música tocando ao meu redor, me ponho a observar lá fora, e sonho com a pintura do que vejo, e que jamais existirá.

2 comentários:

  1. Já disse, há muito tempo,Lulu Santos"Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia..."

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  2. Boa crônica. A vida reverbera lá fora.

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