quarta-feira, 6 de maio de 2020
Crônicas da Cidade Pandêmica: Gente merece existir em prosa
Recentemente eu vi no facebook um link chamado "Inumeráveis" e fiquei tocado pelo que ele dizia: trata-se de um programa que mostra os nomes por trás dos números do COVID-19. As pessoas que se foram, tristemente, fora desse vale de lágrimas cada vez mais intensas.
Na verdade, eu acho que tocado é uma palavra muito fraca para o que eu senti. Neste momento, tendo o site em uma aba aberta ao lado deste singelo blog, eu me sinto... sem palavras. A sensação que me vem ao ler ali é somente possível de descrever quando uso imagens; um vendaval correndo solene pelo campo em silêncio. Sem pássaros, sem sons, somente o vento a soprar.
Eu li esse site bastante. Há tantos nomes, é muito difícil seguir todos. Há muitos sonhos ali, interompidos, sonhos novos e antigos. Não sejamos aqui como o cruel inimigo no poder, que menospreza os mais velhos e os sacrifica abertamente ao Deus Mercado: todos podem sonhar, idosos e jovens. E todos tiveram seus sonhos, suas vidas, ceifadas cruelmente, antes da hora, antes do combinado.
Penso neles, essa noite. E em Flávio Migliaccio, vítima não da Covid mas desses tempos péssimos. Em tantas pessoas, sofrendo sem leitos, enquanto idiotas furam quarentenas só para fazer festas e curtir a vida. Enquanto o Presidente Bolsonaro comemora tal qual uma besta fera em frente ao Palácio do Planalto, o apoio de imbecis iguais a ele, enquanto as pessoas no país morrem, sem ninguém para enxugar suas lágrimas finais, porque nem chegar perto de nossos moribundos podemos.
Todas essas pessoas, todas. Agora são apenas memórias nas mentes de seus entes queridos, e de quem os respeitava e amava. Nunca se morre enquanto não esquecermos o nome da pessoa: que elas vivam então, se não para sempre, um pouco mais, e que esse site ajude-nos a mantê-las vivas, e fortes. Que elas nos ajudem a superar essa noite densa. Porque é tudo tão escuro, meu Deus. Tão escuro. Precisamos de um pouco de luz aqui.
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Talvez seja tal qual o filme, em que a morte real só acontece quando não há mais lembrança do ente que se foi.
ResponderExcluirO site, então, não permite que elas morram
Que as pessoas vitimadas nestes dias cinzentos não sejam esquecidas , não sejam negadas na História que já está sendo escrita, embora o período da ditadura (também tempos cinzentos),HOJE estejam sendo negados como se fossem tão somente INVENÇÃO de nossa parte,dos que sabemos que SABEMOS que não é uma "gripezinha" e que ao sabermos das mortes, diariamente, não viramos as costas para as dores dos familiares e amigos,nem temos a desumanidade de dizer : "E daí?!"
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