quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Crônicas do novo normal: Buscas


Quando eu era criança, eu queria ser detetive particular. Não sei dizer se é um sonho comum entre os pequenos; no meu caso, eu comecei com isso porque tinha lido muito Sherlock Holmes e Miss Marple (minha personagem favorita de Agatha Christie), e achei que era algo que eu gostaria de fazer da vida, resolver mistérios, ajudar pessoas. 

Cresci um pouco mais, e então decidi tornar-me historiador, após um flerte rápido em talvez jornalismo (que meu pai, ele próprio um jornalista aposentado, rapidamente terminou com umas boas doses de realismo sobre a carreira). Já naquela época, antes de até mesmo considerar fazer os processos seletivos da faculdade, eu não tinha ilusões: sabia que meu futuro seria ser professor. Mas achei que em história, eu saberia entender um pouco mais do que estava querendo entender. Eu ia conseguir encontrar a chave do que quer que eu estivesse tanto querendo saber. 

Me formei, fiz especialização em arqueologia, vim para São Paulo para o mestrado em imigração japonesa... e ainda nada do resultado da busca. Para sobreviver, comecei a dar aulas de inglês - algo que, de fato, eu sempre quis fazer. E veja a surpresa, comecei a conhecer muito das pessoas. Um professor de línguas deve mais ouvir que falar, e nesse meio, ele acaba ouvindo confissões, desabafos, rotinas de seus alunos. O professor acaba virando essa figura mista, confessor/terapeuta/mestre. 

Mais que isso, ao dar a aula de inglês, e conversar com as pessoas, eu comecei e entender o sentido da minha busca. Não a resposta para ela, veja bem: porque, por vezes, é mais fácil sentir a resposta para sua pergunta que efetivamente tê-la em palavras. Mas posso dizer que meus alunos, que eu ensinei e ensino todos os dias, me ajudaram a entender melhor parte de mim, e com isso, me ajudaram a chegar mais perto do que eu buscava, a verdade que eu queria, e quero, saber.

E no fim, as pesquisas, os estudos, as aulas que dou e recebo, me deixaram mais perto desta verdade. E eu nem ao menos sei dizer qual é ela, mesmo depois de tantos anos. Acho que possivelmente será uma busca eterna, uma cenoura que impulsiona este cavalo cansado a caminhar e caminhar. 

E enquanto não chego ao meu destino final, vou buscando verdades, e conhecendo pessoas. 



 

Um comentário:

  1. Eu amei demais isso, não faz nem ideia! E é isso, seguir o caminho das buscas, e como estas aproximações de um professor historiador viajador consegue captar no mundo aquém-palavras. Amei imensamente, meu querido.

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