sexta-feira, 9 de julho de 2021

Crônicas do Novo Normal: Filosofia Cotidiana


As menores coisas causam os maiores pensamentos. Por exemplo, quantas vezes você não se pegou andando, sei lá, pelo cruzamento da Ipiranga com a Avenida São João, e você do nada sentiu alguma coisa acontecendo em seu coração? Isso são momentos de poesia, de filosofia que seu cérebro causa, e que só precisa de pequenos elementos para poder fazer funcionar. 

Estes elementos podem ser qualquer coisa, e de fato, para a mente que está num ócio criativo quase forçado (já que , apesar das vacinas estarem andando, ainda não temos previsão do fim desta loucura que estamos), o momento pode surgir do nada. Pensamentos poderosos tomam sua mente quando você está à toa, almoçando, lavando a louça, arrumando a cama. Pelo menos comigo tem acontecido: certa vez, me vi considerando a questão da realidade em meio a uma aula de inglês que eu ministrava. É claro que tive que continuar, e não parar tudo para poder considerar o que pensava; não se paga contas com castelos no ar. 

É quase engraçado pensar nisso, porque , confesso, não é algo que seja inédito na minha vida, estas elocubrações-relãmpago: lembro-me muito de diversas viagens de ônibus que fiz, quando do nada, o observar janela afora torna-se uma consideração sobre quem você é de verdade, e quem deseja ser. Por que cargas d'água surgiu aquele pensamento naquele momento? Talvez uma árvore um pouco mais torta tenha me feito recordar do passado; talvez simplesmente o pensamento já estivesse ali e, quando eu parei por alguns momentos, tornei possível ao meu cérebro considerar tais coisas. Não sei: só sei, como diria o filosófo Chicó, que foi assim. 

Em um texto anterior, eu cheguei a considerar sobre isso, sobre a necessidade real que temos de um momento para pensar. Naquele momento, eu achei que era necessário um esforço nesse sentido, porque não seria algo que ocorreria naturalmente; mas agora, com o passar dos dias em isolamento, me pergunto se nossas mentes não estão se acostumando a isso, a pensarem em si mesmas, uma meta-reflexão sobre seus rumos. Me pergunto, verdadeiramente, se isso é algo que está acontecendo com outros, ou se eu (juntamente com algumas pessoas que dividem desta minha aflição) simplesmente desisti do mundo fora de mim, e migrei de vez para dentro da minha própria cabeça.

E você, como está?

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