domingo, 4 de julho de 2021

Crônicas do Novo Normal: Fantasias Finais


Há algo de romântico, quase nostálgico, ao vermos shows antigos no youtube ou TV ou onde quer que você queria ver essas coisas. No palco, sempre tem uma banda,  em geral dando o máximo de si, e uma plateia cantando os sucessos que pagaram para ouvirem ao vivo. Mas não foi só por isso que elas pagaram: tem muito sentimento ali, muitas lembranças. quer você queira, quer não, as músicas tendem a ser trilhas sonoras pessoais, cada canção uma memória... então, ir a um show deve ser quase que um retorno àquele momento, quando você não era só uma pessoa, e sim um conceito, de felicidade, de tristeza, o que seja. 

Acho que talvez por isso muitas pessoas tenham aquela ligação mais forte com um determinado tipo de música, por mais envelhecida que ela possa ser. Digo isso do alto dos meus 33 anos e fã de rock/pop anos 80: mesmo não tendo nascido naquela época, porque as rádios de minha cidade natal tocavam sem cessar essas músicas (além de technobrega, é claro), elas acabaram se tornando algo como um amigo que me acompanhou desde criança até o momento que saí de Belém, 6 anos atrás. E como se pode abandonar um amigo? Impossível; por isso as playlists do youtube estão cheias de músicas que ouvi atrasadas, e que me fazem sentir algo que eu não saberia nem explicar direito. 

(E também tem technobregas. Possivelmente pelo mesmo motivo.)

Um pouco de nostalgia, me parece, não mata ninguém, e talvez seja até um elemento de força em uma época que cada manhã tem pelo menos 30 fatos que existem só para te deixar mais para baixo. Contudo, há que se tomar cuidado com a nostalgia venenosa, a velha ideia de que "antes tudo era melhor". Hoje em dia é o que mais temos acontecendo, de formas extremas até; recentemente li um artigo sobre pessoas que entraram numa onda de regression, isto é, uma espécie de , bem, regressão ao estado infantil para poder se reenergizar perante o mundo lá fora. Longe de mim julgar, contudo, essa é exatamente a forma extrema que eu falei, uma busca desesperada pela segurança dos tempos de criança, através de meios intensos. 

Acho que talvez isso fale menos das pessoas que escolheram esse caminho do que do mundo que as impulsionou para isso, mas não posso deixar de pensar que esse seja mais um caminho de confundir as coisas, querer encontrar uma sensação e para isso seguir uma prática antiga quejá não faça muito sentido no momento. Assim como as pessoas que vão nos shows ali em cima, essas pessoas podem estar querendo chegar o mais perto possível dos bons momentos do passado... mas será que isso é o melhor jeito? 

Talvez a saída fosse mais buscar esse sentimento de uma maneira mais atualizada; e no entanto, quantas pessoas se perdem até hoje, reencenando cenas de seu passado, buscando a glória e conforto do ontem! Quando você pára de ouvir as músicas antigas e começa a querer se comportar como o adolescente/criança que era quando ouvia aquilo, pode ser o exato momento de parar e repensar algumas coisas sérias. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário