No one can control time, por Poojitha Jagini |
Publico
aqui uma crônica que escrevi em janeiro deste ano, quando a pandemia
parecia tão distante que nem valia a pena considerar. Parecem anos
agora... Mas acho que vale a pena ler e pensar em como éramos antes,
pra poder entender que caminhos tomar depois de tudo isso, ali na
frente, depois dessa escuridão toda. Andiamo, andiamo.
Todo
trabalhador em São Paulo, encarando horas de lotação e baldeação,
tem um quê de filósofo, quanto mais não seja pela força do
observar pelas janelas sujas do ônibus. Eu também me classifico
assim, e portanto, dia desses, eu estava olhando e pensando,
humildemente pensando, nos rumos que as vidas tomam nesse nosso país,
mundo, plano de realidade, tudo isso num também humilde busão. O
que, incidentalmente, talvez seja um dos melhores lugares para
divagar; na melhor das hipóteses, é uma distração daquele cansaço
absurdo pré-trabalho que acomete a todos nós, trabalhadores, que
saímos nas horas mortas da manhã, quando o dia não acordou ainda.
O ócio criativo de 40 minutos a uma hora, ou quanto tempo tenhamos
antes de chegar aos trabalhos.
Mas
eu falava dos meus pensamentos específicos naquela manhã, e eles
todos apontaram para uma direção: aprendizado, essa palavra-tudo.
Olhamos nossa vida, pensamos nos rumos que tomamos, e sempre em
alguns pontos vemos os velhos erros e acertos, repetindo-se, tal como
marcos desgastados de rumos já trilhados. E se assim for, será que
estamos seguindo em frente, ou andando em círculos? Não tenho
respostas: também eu tenho meus marcos errados pelos quais sempre
passo, e nos quais sempre paro e reflito, ou me angustio, dependendo
do que vejo.
Pensando
nisso, surgem à mente uma série de outras reflexões, embaladas
pelo sacolejar do velho ônibus .E se os velhos marcos, e os caminhos
espiralados, forem verdadeiros tanto para o indivíduo quanto para a
vida humana em geral? E se, assim como cada pessoa, a humanidade como
um todo também escolha ignorar seus erros,e seguir em círculos,
mudando apenas a forma como anda? Longe de mim tornar este pequeno
texto um grande debate, até porque nem me refiro exatamente à
política.
Contudo,
por vezes olho para as décadas passadas com minhas lentes de
historiador ocioso, e observo seus filmes, canções, obras.... e não
posso deixar de pensar que elas estão tentando me dizer algo ali,
como que um clamor de atenção, talvez. Muito se fala do zeitgeist,
o jeito alemão de se falar do espírito do tempo que define gerações
em cada época. Talvez as obras de arte estejam ali como reflexos
destas épocas, ecos translúcidos dos obstáculos, sentimentos,
inspirações e aspirações de cada período. Talvez as nossas
saudades de um tempo que não vivemos, seja porque vemos nestas
fantasmagorias um reflexo de nossas barreiras físicas e emocionais,
uma razão para nossas lágrimas enterrada no passado.
Se
assim for, se cada época tiver em si um reflexo do futuro, então
não há avanço em absoluto, apenas caminhadas
diferentes, joggings metafóricos em ritmos
diferentes . E cada período humano perpassa pelos mesmos erros de
antes, apenas com mais tecnologia, ou talvez as repetições sejam
propositais, e na verdade seguir em frente seja menos uma
consequência e mais uma decisão, em grupo ou individual. A História
como uma peça de teatro, casa cheia, toda noite de um século.
Eis
um pensamento intrigante. Vou ter que deixar um espaço mental na
volta do trabalho, ou talvez na hora do almoço.
PARA OUVIR: TIME
Pensamentos que nos fazem companhia nas horas em que estamos cercados de pessoas e ao mesmo tempo sozinhos com nosso EU.
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