Em 2015, um estudo feito pela empresa de pesquisa de opiniões Flyfrog tentou determinar o que o brasileiro médio achava repulsivo á sua ética. Para tanto, entrevistou 400 pessoas sobre uma série de ações que seriam ocorrências do dia-a-dia, e propôs uma numeração de 0 a 10, onde 0 é nenhuma repulsa, e 10 completa repulsa. o entrevistado deveria dar sua numeração pessoal para estas ações, e ao fim e ao cabo, somariam-se os resultados e voilá, a média de rejeição surgiria.
Se você prestar atenção, a pesquisa foi feita em 2015, durante portanto o processo de Impeachment da presidenta Dilma Roussef; seria de se esperar uma citação à corrupção nas ações rejeitadas pela população brasileira, ou pelo menos algum aceno nesse sentido. Certamente alguma ação similar seria apontada como um dos valores mais altos, quase um 9 pelo menos.
E no entanto, quem pensou isso estava enganadíssimo, pois de acordo com esta pesquisa, a ação considerada mais torpe pelos entrevistados foi... aborto. E antes que se pense que há um impulso religioso sincero nesta opinião, diga-se aqui que o adultério recebeu uma nota média de 0,47 , uma nota quase tão baixa quanto conseguiram as ações "receber propina" e "votar em corruptos", que obtiveram a mesma nota: 0,86. Em compensação, a violência à mulher recebeu a singela nota de 3,8, e não prestar socorro à uma mulher que sofreu abuso teve a nota 3,18.
O que dizer desses dados? Primeiro, que são limitados em escopo (400 indivíduos da classe A, B e C na região Sudeste), e que o tempo com certeza já passou o suficiente para pelo menos algumas dessas noções terem mudado - pelo menos assim espero, embora uma outra pesquisa mais recente tenha apontado uma divisão preocupante. Segundo, que apesar disso, é possível sim dizer algo deste grupo, tão diminuto mas representativo.
Primeiramente, que o brasileiro nunca é contra a corrupção, aparentemente; apenas se irrita quando não leva o seu pedaço de bolo pra casa. Não à toa, dentro desta mesma pesquisa uns dos dados mais baixos envolve dirigir bêbado.
Em segundo lugar, que o brasileiro é com certeza um falso moralista, dado que parece ter uma opinião muito forte em abortos sem necessariamente ter passado por qualquer parte deste processo; e também que prefere ver a violência da sua janela e comentar depois, à boca pequena, com a mulher que apanhou de seu parceiro sangrando na casa ao lado.
Pensa-se que a religiosidade influencia muito o comportamento brasileiro. Eu concordo; mas pelos dados acima e tantos outros que vamos vendo surgir em pesquisas outras, maiores até, me parece que o brasileiro no fundo é apenas um hipócrita, que gosta de mandar na vida dos outros, e precisa do verniz do sagrado para poder ter argumentos e se olhar no espelho interno da alma pútrida.
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