Quando me mudei para São Paulo, eu imediatamente queria o caos da cidade. Vim de uma cidade relativamente pequena, Belém do Pará; discutivelmente uma metrópole no meio da Amazônia, certamente uma cidade menor que São Paulo, ou Rio de Janeiro, ou o que seja. Como um garoto do interior curioso com a modernidade, eu sentia a necessidade de experimentar o movimento da urbis, queria viver a noite da rua Augusta, visitar os bares e botecos famosos da Pauliceia desvairada, embriagar-me das luzes e néons.
Porque eu buscava isso, tentei arrumar um lugar próximo da vida noturna quando cheguei. Qualquer um que tenha acabado de se mudar para São Paulo vai lhe dizer que esta foi uma ideia muito tola, ainda mais quando só se tem 3 mil reais em conta, e nenhuma perspectiva de emprego em vista. Ademais, eu não tinha me mudado por motivos aleatórios; meu objetivo era cursar o mestrado na USP, que fica na região do Butantã. Evidentemente, fazia sentido eu morar perto da universidade onde estudaria, ainda mais porque nem dinheiro para transporte eu tinha direito. Rabugentamente, foi o que fiz.
A região do Butantã é uma área diversa, cheia de contrastes e consolos às almas que o habitam. Em um minuto pode-se estar numa rua considerada de ricos, em outro numa rua considerada mais pobre; bares e restaurantes em abundância ao longo das avenidas Corifeu e Vital Brasil (pelo menos assim era, antes da pandemia). Em comum, apenas um detalhe: árvores. Altas, baixas, carecas ou folhadas, vemos árvores por todos os lados. Bem menos que em Belém do Pará, é verdade, mas também muito mais do que eu sequer cogitava associar ao nome São Paulo.
Como se lutasse contra a urbanização agressiva, as árvores surgem em locais quase inusitados, ou talvez seja a cidade que, inesperadamente, resolve construir ao redor da árvore ao invés de derrubá-la; quem poderá saber? O fato é que o bairro me deu o que eu não sabia que queria, que era o abraço das árvores, que fizeram tanto parte da minha vida em Belém do Pará que, agora vejo, eu me sentiria completamente perdido sem um verde perto de mim, fazendo afagos ao longe, dançando ao longo do vento, crescendo incólume à pandemias e presidentes idiotas.
De fato, tornei-me tão amante das árvores, que tenho uma favorita, que chamo de "Madrinha" e que ilustra esta crônica. Ela fica numa das transversais da avenida Vital Brasil e está lá, em frente a um condomínio, cada vez maior e mais esplendorosa. Toda vez que a visito, temo ser a última: pode ser que os síndicos ou condôminos achem que é a hora dela ser cortada, por algum motivo tolo qualquer. Ainda assim, contra todas as expectativas, ela segue, rumo ao céu, mais perto do infinito que jamais estarei em vida. Quando vi que as coisas estavam sérias entre nós, levei Aline para conhecer a Madrinha, e desde então ela se tornou também, a protetora não-oficial de nossa união. Eis o poder da natureza.
Não vejo a Madrinha desde Março do ano passado. Assim que tudo acabar, gostaria de ir lá e perguntar-lhe como foi seu ano de pandemia, que coisas ela testemunhou, se acha que a vida ainda vale a pena. A resposta do balançar de suas folhas com certeza vai valer a pena ouvir.
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