sábado, 13 de março de 2021

Paixão nacional: A violência


Há muito o que dizer sobre o fascínio das pessoas sobre séries de assassinatos e crimes, e eu mesmo já falei disso a algum tempo atrás: faz parte da necessidade das pessoas de buscar uma resolução, em um mundo caótico e confuso. Como isso é algo universal e atemporal, sempre teremos essas questão, essa lacuna a preencher, então o fazemos com a ficção, com a arte. 

Contudo, acho que isso merece mais uma visão, essa fixação por crimes e horrores do mundo moderno, particularmente brasileiro. Porque veja, um programa como o "Cidade em Alerta" não tem, em absoluto, nenhuma resolução; ao contrário, os crimes são apresentados ali de forma nua e crua, e os criminosos muitas vezes estão soltos, para consternação do apresentador, que aproveita a deixa para conclamar ações mais severas da polícia (como se a mesma já não o fizesse). 

Zero resoluções, zero conforto - e uma audiência significativa. por isso eu quase não culpo os canais de televisão, porque se há a produção destes tipos de programa, com certeza há a demanda intensa pelos mesmos. Não sei dizer se o brasileiro gostaria, realmente, de parar de consumir tamanha brutalidade. 

Sim, o jornalismo "mundo-cão" é um grande sucesso no Brasil, em forma impressa e televisiva. Por vezes me pergunto se aqueles documentários sobre crimes bárbaros que o Netflix tem, também são sucessos de audiência aqui no Brasil, ou se a preferência nossa é maior com crimes "caseiros", sem tanta complicação. Uma facada durante uma discussão, um assalto á mão armada, coisa nossa, produto nacional. E por que essa paixão nacional tão intensa? Por que paramos para ver a gravação de uma morte a tiros pela TV? Ou olhamos fixamente para fotos e notícias no jornal de tiroteios e mortes? 

Existe a desculpa oficial: preciso me informar para saber aonde estas coisas acontecem e evitar; ou preciso saber para me indigna, correr atrás de melhorar, de lutar por algo melhor.  Razões tolas e falsas, porque as pessoas não querem admitir o lado mais sombrio da coisa: elas gostam de ver isso. Cada pessoa morta pelas balas são uma confirmação do quanto o mundo é decididamente ruim, cada batida policial é a chance de viver a adrenalina não da justiça, mas do tiroteio, da violência. O brasileiro é viciado em violência, e é extremamente difícil ver um indivíduo neste país que não considere agressão como uma das formas de conseguir o que quer. 

Como crianças abusadas fisicamente pelos pais, vivemos nossos dias em busca do melhor alvo para nossa ira santa e justificada; me pergunto se essa é realmente a saída ideal, ou se talvez não tenha passado da hora de uma revisão interna de valores de nossa população.

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