Às quartas, eu não tenho muitas aulas. De fato, são apenas duas - Uma das 10 às 11, e outra das 13 às 14, com um aluno que comecei a trabalhar recentemente. O resto do dia é tranquilo, até umas 17 horas, quando começo a me organizar para ter uma consulta com meu terapeuta (carinhosamente chamado de "Doc " por mim, em minha mente, nunca ao vivo), às 17:30. Digo "me organizar" porque é algo que requer um certo tempo para mim, puxar da mente como foi minha última semana até aqui, pensar nas coisas que discutimos anteriormente.
Esse ritual de meia hora é algo que normalmente me deixa um pouco pra baixo, seja pelos tempos bosta que estamos vivendo, seja porque terapia envolve remexer feridas mentais, e isso sempre dói, como é de se esperar. Mas hoje, estranhamente, não senti a angústia pré-consulta que sinto normalmente. Na verdade, me sentia muito bem, algo espantoso nos dias de hoje. Procurei em minha mente o que poderia ser, e pensei na aula que dei anteriormente, mas mesmo ela não tinha sido assim TÂO boa para eu me sentir bem desse jeito; amo minha profissão, mas não a esse ponto.
Percebi então que o sentimento que eu tinha era algo incomum, até mesmo visto com maus olhos nos nossos dias cinzas: tratava-se de Esperança, com E maiúsculo mesmo. A causa desse sentimento tão repentino? Hoje foi anunciado que os professores aqui de São Paulo , em conjunto com os policiais, começarão a ser vacinados a partir de Abril. E veja, eu sou um professor; mas não no sentido que me garantiria ser vacinado agora. Então, a Esperança não é para mim ainda.
Mas minha cunhada, que até recentemente teve de se arriscar a ir dar aula em escolas que se recusam a aceitar a realidade, é sim uma professora. Além disso, junto dela está chegando a vacinação de minha sogra, minha querida segunda mãe. E saber que um ente querido seu está próximo de ser vacinado, com certeza é motivo de sobra para sentir felicidade.
Não é dar razão a quem gosta de dizer que os preocupados são "pessimistas". A dor e o horror das mais de 300.000 mortes não sumiu. Não diminui a raiva pela injustiça que sofremos com as pessoas exercendo seus podres poderes. Mas se não conseguirmos ficar felizes com as pequenas vitórias que aparecerem em nossas vidas (quaisquer que sejam, e quando aconteçam), então me parece que o horror ganhou de vez. E eu penso que temos que nos recusar a deixar isso acontecer conosco.
Há que salvar o que ainda resta de nossa alma.
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