terça-feira, 9 de março de 2021

Crônicas do Novo Normal: Estigmas


Ontem, eu vi o filme "Um príncipe em Nova York 2", sem ver o um. Sim, eu sei, um sacrilégio, ainda mais para mim, um cara que cresceu vendo Sessão da Tarde com seus outros filmes dos anos 80, inclusive um monte do próprio Eddie Murphy. Acho que talvez eu tenha pulado ele por achar que não seria muito a minha praia; confesso que sempre fui um fã inveterado de filmes de ação com comédia, como justamente o é Um tira da Pesada. Os gostos moldam as nossas experiências neste planeta Terra. 

De qualquer forma, eu vi o filme em companhia virtual de meu grande amigo Genival e sua querida companheira Tayná, e foi um momento muito divertido entre pessoas queridas. O filme em si, embora não tenha sido um dos meus favoritos, me fez pensar muito sobre representações, sobre como as coisas podem ser passadas pelos filmes - às vezes nas menores coisas. 

Porque veja, uma coisa que me impressionou muito, e que eu talvez não tivesse tanta preocupação se tivesse visto o primeiro, foi a representação do reino do Rei Akeem, Zamunda. Confesso que, por ser um filme de comédia, eu esperava uma representação mais ridícula talvez - ou talvez a palavra seja "mais caricata". Surpreendi-me por não ser assim; na verdade, o reino em si é muito bem feito, possivelmente um dos pontos fortes do filme, e fiquei muito feliz com isso. 

Fiquei pensando muito sobre isso. Em minha cabeça, essa imagem caricata veio de cara - porque é o que estou acostumado a ver em outras representações. Porque é o que as produções culturais tendem a fazer, buscar na África, tudo que pode haver de ruim: guerras, doenças, pobreza. Como se o continente fosse o único onde ocorrem estas misérias, como se ali fosse a foz dos males do mundo - conforme diziam antigamente os padres católicos em seus sermões. 

E falo aqui da imagem africana perante o mundo, mas com certeza isso ocorre com uma série de outros grupos marginalizados, entre eles os indígenas em nosso país. Só pelo fato de eu ter citado isso, com certeza uma série de imagens surgiram na mente do leitor - imagens que possivelmente não são nada acolhedoras, mas que são as espalhadas pelas mídias, introjetadas em nossas mentes. E que se repetem por tanto tempo, que nunca paramos para realmente considerar o valor certo dessas imagens, o quanto elas foram construídas perversamente ao longo do tempo. 

O que será que precisamos fazer para fugir das armadilhas do que os outros querem que nós pensemos?

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