domingo, 21 de março de 2021

Crônicas do Novo Normal: Piadas Mortais

 

Batman: A Piada Mortal 

Em 16 de Março de 2021, um homem matou 8 pessoas em casas de massagem na cidade de Atlanta, Georgia. Os motivos estão sendo investigados ainda, mas a principal teoria, corroborada por testemunhas e pelo fato de 6 das vítimas serem mulheres de ascendência asiática, é de que o crime tinha intenções de atacar aquele grupo étnico específico. Um dos oficiais responsáveis pela investigação, capitão Jay Baker, foi recentemente tirado do caso pela sua declaração que os motivos do suspeito seriam que ele "teve um dia bem ruim". 

Durante o ano de 2020, houve um aumento significativo do abuso físico contra mulheres e crianças dentro de seus próprios lares. A ONG World Vision estima que no Brasil houve um aumento de 18% deste tipo de violência contra menores entre 2 a 17 anos de idade. Entende-se com isso, que os responsáveis, não conseguindo suportar a tensão da pandemia e não tendo nenhum tipo de amor pela própria cria, resolvem descontar a raiva nos mais indefesos, resultando muitas vezes em ferimentos graves e mortes. Tudo por culpa de "um descontrole", ou talvez "um dia especialmente ruim". 

Em Março de 1988, a DC Comics publicou uma Graphic Novel, de autoria de Alan Moore com arte de Brian Bolland, chamada A Piada Mortal. Nela, é apresentada a origem (ou ao menos uma das origens) do vilão Coringa, ao mesmo tempo que ele executa um plano para provar que todos podem perder a sanidade, tal qual ele: basta acontecer um dia ruim. A ideia dele é tentar enlouquecer o Comissário Gordon com torturas físicas e mentais, entre elas forçando-o a ver as fotos de sua filha, Bárbara Gordon, sofrendo após tomar um tiro que partiu sua coluna ao meio. 

Batman: a Piada Mortal

Na madrugada de 21/03/21, eu sentei para escrever esta crônica e não sabia o que dizer. Fiquei um bom tempo olhando para a tela em branco e... palavras me faltavam. Eu pensava, naquele momento, o quanto eu tinha para falar e o quanto eu não conseguiria jamais expressar. Pensei, não pela primeira vez, que deveria ter sido um pintor: Eles sempre me pareceram os artistas mais explícitos em emoções com suas obras, mais diretos. 

Então me dei conta que eu sabia muito bem o que queria escrever, apenas lutava contra as palavras. A Piada Mortal, que eu li a tanto tempomartelava em minha cabeça, junto com os fatos que eu falei acima (e tantos outros...). E eu sabia que a conclusão que vinha era óbvia, embora não diretamente do que o personagem queria dizer. 

Não acredito que um dia ruim transforme as pessoas em insanas. Isso é tolice. 

Eu acredito que a maioria das pessoas já é ruim, e que o dia mais difícil apenas dá a elas a oportunidade de expandirem seu potencial. E então, um membro da família mais desprotegido vira o alvo de seu despertar, ou talvez uma pessoa na rua, seguindo cansada para casa. Já não são mais pessoas, e sim elementos de catarse, para o demônio que alimentam dentro de si. 

Eu acredito que as pessoas que são assim são a maioria no mundo. O que nos leva a pensar: como viver sendo a minoria? A real minoria, dos que creem em um mundo que possa melhorar? Essa é a  verdadeira questão.

Ou talvez seja tudo realmente só uma monstruosa piada, e nós somos apenas os elementos que caminham rumo ao gancho dela. 

Um comentário:

  1. Faz total sentido. No final o ser humano busca nada mais que justificar seus atos vis culpando ao acontecimento alheio.

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