Fonte: Rai Radio |
Esses dias eu estava vendo junto com a minha esposa, uma entrevista com Roberto Benigni. Foi engraçado, porque eu não tenho lá um grande apreço pelo ator (não que eu desgoste; apenas o acho normal), mas Aline ficou bastante empolgada com a ideia de vê-lo sendo entrevistado, e lá fomos nós.
Fiquei agradavelmente surpreso: a entrevista era em inglês, então Benigni teve alguma dificuldade de se expressar, mas que energia! Que vontade de pular, correr, viver ele tinha! A plateia ia ao delírio, e ele parecia estar muito empolgado com a oportunidade de estar ali (era, ao que parecia, sua primeira entrevista na Inglaterra). Ele não conseguia ficar parado no sofá: levantava e gesticulava e sorria, mais ou menos como a imagem que se tem na cabeça de um italiano, só que ao vivo!
O tema que ele falava tão apaixonadamente, tão empolgado? O Inferno de Dante. Aparentemente, ele estava fazendo uma turnê pela Europa (o ano da entrevista, me parece, era 2017, 2018, então foi antes da pandemia que nos atormenta no momento), aonde ele fazia uma espécie de leitura dramática do Inferno de Dante, associando com fatos da atualidade, e interagindo com a plateia.
Tanto quanto eu não sou particularmente empolgado com Roberto Benigni, também não o sou com Dante Alighieri; e no entanto me vi vencido e vendido pela energia que o ator transparecia ao falar da sua turnê. Parecia algo completamente novo e mágico, não porque ele falava bem de Alighieri (o que, certamente, ele fazia), mas porque ele acreditava piamente no que dizia. A sua voz não era de um vendedor, era de um fã, e isso fez toda a diferença do mundo.
Assistir aquilo me fez pensar naqueles momentos especiais, quando você vê uma pessoa falando apaixonadamente de um assunto que você talvez não tenha tanto interesse assim, mas que acaba encantado unicamente pelo interesse que essa pessoa demonstra. E os assuntos podem ser dos mais variados: certa vez me vi ouvindo atentamente uma explicação sobre tipos de canetas, feita por um senhor em uma papelaria; e as palavras que ele dizia quando falava de tamanhos de pontas, cores, e formatos, soavam tão eloquentes que não pude deixar de ir para casa pensando em canetas e mais canetas. Outra vez foram plantas o assunto, e esse, embora eu tenha um fraco por jardinagem em geral, também me empolgou bastante, ao ponto de eu quase poder ver o jardim do orador. Eu mesmo já fui apontado como um falante apaixonado de uma série de coisas, principalmente História e quadrinhos; acho que talvez sejam esses meus pontos de inspiração!
De qualquer forma, fico pensando no quanto este mundo é variado em tantos aspectos, em como cada assunto que existe tem, em algum lugar, seu entusiasta. Com certeza, essa é uma das experiências mais humanas que se pode ter no contato com um semelhante: ouvir o que o coração do indivíduo tem a dizer.
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