quinta-feira, 11 de junho de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: Aquela que nasceu com a manhã

Art by Chloe Lynch


Ontem eu sonhei com a minha irmã. Ou talvez eu deva ser específico: sonhei com uma irmã que eu nunca tive. Pois quem me conhece sabe que tenho uma irmã; ela conta hoje com seus quase 25 anos em Julho, e está adulta e cuidando da vida dela.Mas essa pessoa, essa menina com quem sonhei, não era ela. Ao contrário, acho que ela nunca nem sequer teve a oportunidade de ser adulta.

Seu nome era Lucíola, como no livro de José de Alencar (talvez haja aí uma referência psicológica na minha mente? Que os psicólogos de plantão me digam!). E ela morreu, no meu sonho, aos 5, 6 anos de idade. Não chegou a entender a miséria de que é formada o mundo; não chegou, também, a poder sentir emoções bonitas que vem à medida que envelhecemos. Agora, no seguir do dia, não me recordo exatamente dos pormenores do sonho: afinal de contas, muita coisa acontece conosco ao longo de um dia, e estas exigem nossa faculdade mental, ainda mais quando se trata de um professor. Ficou porém, a sensação do vazio, do luto que sentia por ela.

No sonho, ela tinha vivido e brincado conosco. De alguma forma, ela conheceu a Aline também, pois em teoria ela teria vindo para nossas vidas agora, com meus pais mais velhos. e no sonho, ela havia morrido a 6 anos. e seguíamos a nossa vida, sempre com a dor no fundo do coração; pois a dor de um luto é a dor que nunca passa. Você só reconstrói da melhor maneira possível a sua vida, e segue em frente. Mas a dor em si nunca vai passar.

Acordei chorando. Lucíola fizera eu sentir algo que eu nunca senti antes, até agora: a tristeza de uma saudade sem chance de ser resolvida. Senti - ainda sinto- a dor por tudo que ela não pôde viver, tudo que ainda esperava essa criança de msues sonhos. E fiquei pensando nos pais que perderam seus fihlos ainda crianças, para este mundo terrível, que tudo devora. Tanta maldade e sofrimento aqui; quantas Lucíolas não partiram muito cedo desse mundo?

Ela também me ensinou a amar de uma forma que eu não me recordo de ter sentido antes. No sonho eu vi a foto dela, e eu sabia: eu daria tudo para dar vida novamente àquela menininha. Para vê-la dançar no quintal novamente; para poder brincar com ela nos parques e brinquedos que não existiram, que nunca existiram para ela, pois ela está somente aqui, em minha mente.

Um beijo, Lucíola. Fica em paz, te vejo em meus sonhos novamente.

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