terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Crônicas do Novo Normal: Nexus City




Desde que eu me entendi por gente, eu sempre quis sair de Belém do Pará. Talvez pareça uma frase forte, mas eu não acredito que esteja exagerando. De fato, consigo lembrar-me claramente do porquê de meu primeiro pensamento em querer sair de Belém: eu vi uma propaganda do parque da Mônica numa revista e queria muito ir lá, mas ela só ficava em São Paulo, justamente. Criança que eu era, pensei: O pessoal de lá tem tudo de bom, eu quero é morar lá! Quero ir para São Paulo! 

Anos depois, mais maduro, percebi que sim, eu tinha razão. As coisas por aqui são bem melhores. E por isso me mudei pra cá. 

Não que sejam perfeitas. Nossa, realmente não são. Falta muita humanidade nas ruas de Sampa; os  prefeitos veem a cidade como mera plataforma de começo de campanha para governador; os preços das coisas podem ser absurdamente altas; o aluguel então, nem se fala. E a poluição, é claro: mas acho que isso tende a ser mais hors concours que outra coisa. 

O que tem aqui então? Possibilidades, eu diria. Mais que em Belém, com certeza absoluta: e no entanto, mais que em muitas outras cidades que as pessoas considerariam morar no brasil. Contemplem Brasília por exemplo: O que há lá, além de uma cidade em formato de avião querendo decolar de si mesma? Ou o clássico Rio de Janeiro, símbolo do país tropical que nos fala Jorge Ben Jor, e além disso uma cidade apaixonada demais por si mesma para querer sequer cogitar consertar seus defeitos? 



São Paulo é uma cidade que, muitos dizem, não tem amor; mas tem compaixão. É um lugar onde dois lados lutam, no mesmo espaço que tem um prefeito que põe pedras debaixo de um viaduto para os sem-teto não terem onde dormir, tem um padre que lança mão de uma marreta para tirar as pedras na marra. É a cidade dos opostos, e aqui tem tanto a pior quanto a melhor das pessoas. E o encontro de culturas! Apesar de não ter, realmente, uma cultura que possa chamar de só sua, a Pauliceia desvairada tem de tudo em si, do Japão  à Itália. 

E acho que esses extremos me fascinam. Creio que viver nesta cidade dilema é, de certa forma, estimulante para minha mente. Aqui me encontrei, aqui encontrei a minha parceira de vida. E por isso vivo aqui a mais de 6 anos. 


Além de, é claro, poder comer sushis a um preço extremamente razoável. 

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