Certa vez eu disse que o café é um dos vícios que eu tenho comigo nesta vida. Sim, um deles. Não me julgue, você possivelmente tem vícios tão ou mais pesados que os meus.
Minha história com o café vem de longe, embora eu tenha tido uma aproximação cuidadosa no começo. Toda manhã, aquela boa xícara de Nescafé com leite era o que me esquentava as tripas e me punha para seguir à escola e estudar. Os sabores da infância sempre ficam com você: até hoje, quando me ocorre de beber um pouco de café solúvel, sinto-me quase como que naqueles dias cada vez mais distantes. quando minhas preocupações eram grandes, sim, mas eram do tamanho da minha esperança no futuro.
Com o tempo, tanto as desilusões quanto a quantidade de cafeína matinal aumentaram, o que talvez tenha uma ligação direta, vai saber. O fato é que eu comecei a tomar cada vez mais café à medida que fui envelhecendo, e quando estava no auge da faculdade cheguei a tomar 4, 5 canecas de café por dia. Como é de se esperar, o estômago não gostou muito dessa decisão: foram meus primeiros momentos com uma azia constante e dores estomacais condizentes com um princípio de gastrite.
Também foram meus primeiros momentos retornando ao café solúvel; afinal de contas, como o leitor deve imaginar, parar só por parar não era mais possível, eu estava realmente viciado. Só o que eu podia fazer era diminuir o ritmo - o que eu faço ainda hoje, quando a azia ataca "do nada" (sendo que eu a provoquei). Bem verdade que nem sempre eu sigo pela cafeína: curiosamente, chá de camomila tem um efeito de abraço interno que o café me trás, apesar de não poder ter um gosto mais diferente.
E no fim das contas, é isso que eu busco, creio eu, no café: esse abraço quentinho que me leva para um outro lugar. Eu digo aos outros que beber café me relaxa, para surpresa de muitos. Não acho que é algo tão surpreendente assim: o gosto amargo na boca me lembra dos momentos mais felizes que tive, pensando sobre pesquisas, lendo coisas assombrosas altas horas da noite, jogando videogame com meu irmão Frederick nestas mesas horas altas. O café sempre esteve comigo; e se tudo der certo, ele sempre estará ali, mesmo que quase descafeinado, abraçando meu coração com frio.