Confesso que não é a primeira vez que este tipo de pensamento me envolveu com seus tentáculos sufocantes. De fato, nos últimos meses, devo ter me sentido assim pelo menos umas 3, 4 vezes, isso sem contar com o ano passado, no começo desta insanidade toda. Muitas coisas estavam, e estão, acontecendo ao redor do mundo. E eu acabei tendo um camarote involuntário para tudo isso: como professor de inglês, é meu dever fazer a curadoria de vídeos de notícias para as atividades de listening dos meus alunos - e aí toma receber notícias ruins, e exemplos do Brasil como algo a não ser seguido, e pessoas seguindo as regras de isolamento só quando lhe dava na telha, etc.
Como se vê, é uma situação de enlouquecer qualquer um, e de fato eu quase enlouqueci. Não estou brincando: houveram momentos que eu realmente senti que minha cabeça não conseguia mais raciocinar direito, e que eu sonhava com as notícias, sem ter paz mesmo no sono. Se não tive uma estafa mental aguda, foi graças ao apoio amoroso de minha esposa, e o trabalho árduo do Dr. Pedro, meu terapeuta, o qual recebe muito menos do que merecia pelo trabalho que tem comigo. Isso tudo, mais uma decisão de diminuir as notícias quando não fosse necessário trabalhar com elas em inglês, me fez recuperar um pouco o chão de sanidade que me restava.
Como tudo que é bom dura pouco, ultimamente eu tenho sentido exatamente a mesma coisa voltando, e nem posso culpar as notícias por isso mais: tenho tido o cuidado de até mesmo procurar outros vídeos para os meus alunos que não sejam diretamente sobre o Covid (creio que eles tem o suficiente disso no dia-a-dia). Não, o problema aqui é muito mais interno que externo; é um turbilhão emocional, e não mental, embora acabe se tornando o segundo por pura e simples pressão das emoções, essas desqualificadas.
Assim como eu, você que me lê deve sentir algo parecido: saudades da família; de ir ao parque sem se preocupar se isso pode ter sido uma sentença de morte; de poder esticar do trabalho para um cafezinho, uma biblioteca (bom, eu estico para bibliotecas, não sei você). Tudo isso adiado at eternum, até que alguém faça alguma coisa, acelere nossa cura, nos deixe viver novamente. Tudo isso, enquanto ao nosso redor as mortes se acumulam, céleres e caóticas.
E com isso, descobrimos que não se precisa ler notícias para ser angustiado nesse mundo. Tal qual um horror cósmico de Lovecraft, ele é grande demais e horrendo demais para compreendermos tudo - e disso vem o nosso sofrimento. Quisera, nessa hora, ser como o vento: soprando, livre, sem pesos que o derrubem, e sem toda essa dor que nos acompanha.
Para ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=ijcTx6vBoJw
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