quinta-feira, 20 de maio de 2021

Crônicas do Novo Normal: Bolsonaro, o outro Filho do Brasil

Fonte: Finantial Times



Em 2018, Jair Bolsonaro foi eleito com 55,13% dos votos válidos, derrotando seu oponente, Fernando Haddad, que conseguiu 44,87% dos votos. Desde desse momento, houve uma grande preocupação em se entender como isso aconteceu; desde o grande número de pessoas que resolveram não votar em nenhum (mais de 30 milhões, realmente um número significativo), até a ideia de que a esquerda estava esfacelada e não levou a sério a ascensão de um movimento de extrema-direita no país. 

Todas essas são opções não só válidas, como certamente são parte da verdade como um todo. Contudo, não podemos deixar de analisar o seguinte: quase 58 milhões de pessoas votaram em Bolsonaro, isto é, escolheram ele e seu desprojeto de governo como o mais relevante para o país naquela época, naquele período de crises. Pode-se culpar a mídia por enganar as pessoas, pode-se falar de fake news... mas além disso tudo, será que não devemos também olhar para o fato que Bolsonaro representa, sim, uma grande parcela da sociedade brasileira? 

E veja, eu entendo. É difícil engolir isso, que parte das pessoas no Brasil pensem que uma pessoa que apoia a tortura, o assassinato, e o desvio absurdo de dinheiro sob o desígnio de comprar leite condensado, é realmente o candidato mais indicado para governar o Brasil. De fato, muitos podem dizer que as pessoas acordaram agora para o que é Bolsonaro de verdade, como se antes ele escondesse o que era (nunca escondeu, nisso ele foi sempre bem direto). Esse pensamento tolo pode ser facilmente combatido com os dados que mostram que a aprovação de Bolsonaro, mesmo sendo menor que a reprovação, ainda é de 36% nas pesquisas mais recentes, e de fato cresceu nos últimos 15 dias

Nesse período, diga-se, o Brasil chegou em mais de 440 mil mortos. Ou seja, mesmo com a morte a galope pelo país, o  índice de aprovação deste homem é relativamente alto ainda.  Por que isso tudo? Qual o motivo da relativa estabilidade de apoio a Bolsonaro? Estaríamos nós sendo muito pessimistas, considerando apenas o lado negativo desta moeda terrível que observamos?

Eu penso que não. Acho que na verdade, estamos sendo otimistas demais, e talvez seja hora de encarar isso de frente: uma porcentagem significativa de brasileiros apoia o bolsonarismo, acha que ele atende suas expectativas, quer mais dele. Nesse sentido, Bolsonaro é tão Filho do Brasil quanto Lula, mas é um filho diferente, nascido do egoísmo e brutalidade das classes dominantes, da corrupção e violência. E estes elementos são sim, parte dominante no Inconsciente Coletivo da nação da brasileira 

Mas não são os únicos pontos deste Inconsciente. Existe a luta interna pela alma do País. A questão é: como fazemos para ganhar o combate? E o que garante que ele vai acabar em algum momento? 

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