sábado, 26 de dezembro de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: Papai Noel dos trópicos

Fonte:espacocasa.wordpress.com

Estamos quase chegando em 2020, e não sabemos quem somos. É a pura verdade - embora não queiramos admitir. Tentamos e tentamos tantas vezes, em tantos tempos passados, mas me parece que hoje em dia a Grande Identidade, por assim dizer, está completamente fora do nosso alcance ainda, e isso em um momento que saber quem somos é de vital importância. 

Talvez o leitor esteja confuso sobre esse assunto. Ora bolas, não acabamos de sair do natal? o que é isso tudo de identidade, de importância vital e tudo? Pois eu lhes digo que é sim um assunto forte, e que nunca é tão evidente quanto nestes momentos. Pois lhes pergunto: fez calor na sua região? Suponho que sim, embora com um pouco de chuva. Aqui em São Paulo, incrivelmente, fez um pouco de frio, mas nada que houvesse neve ou qualquer coisa assim. Como se deve saber, a neve no brasil é um fato quase impossível.

E no entanto, cá temos o Papai Noel, de casaco, gorro e botas, preparado para um frio que inexiste aqui. e  arrisco dizer que muitos nem chegam a pensar nisso como algo incomum: simplesmente é, e não se diga mais nada a respeito. Mas só porque é uma tradição, não quer dizer que pode ser contestada: tradições são meras invenções simbólicas, amigos. E a do Papai Noel também já foi antes, por Getúlio Vargas, com o Vovô Índio, uma figura indígena carregada de todos os preconceitos da época acerca dos indígenas que se tentou tronar a figura dos presentes aqui na Terra Brasilis.

 Foi uma maneira bizarra, xenófoba e francamente ridícula de se questionar a figura do Bom Velhinho por aqui, e talvez por isso o projeto da brazileirização de Noel tenha sido abandonada. Mas eu acho isso um erro. E pode parecer besteira insistir em buscar um modelo brasileiro de papai Noel com tantas outras urgências ao nosso redor, mas pense bem: Um Papai Noel brasileiro não iria, na menor das hipóteses, pelo menos prover os pobres papais-noeis de shopping um alento do calor infernal dos trópicos? E na melhor das hipóteses, não iria também, pouco a pouco nos libertar de um dos muitos modelos importados de fora, sem nenhuma adaptação, que só servem para nos fazer sentir incompletos, excluídos de algo que nem tem a ver com a nossa natureza? 

Posso ser um sonhador, mas entre tantas coisas que desejo (e elas são muitas: Justiça Social, Felicidade para a minha família, perder 5 kilos...), essa é uma das principais. E talvez seja a mais alcançável, depois da meta de perder peso. Então, que sigamos nosso manifesto antropofágico uma vez mais! PELO PAPAI NOEL DE BERMUDA E CAMISETÃO! 


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