quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: As ruas do Natal em 2020.


Em dias como esse, com a chuva caindo devagar sobre os telhados paulistas, e os gatos correndo pela casa lutando por cordas e brinquedinhos espalhados, que eu me lembro do período de festas da minha época de adolescente e criança. Memórias que vem com o cheiro da chuva, certamente.

Sendo honesto, direi que eu não era o maior fã desta época do ano. Não era realmente um Grinch, mas eu não sei se conseguia ver o que tinha de especial tanto assim. Claro, no dia do natal haviam presentes, e comida, e mais presentes ainda. Mas eu não me sentia à vontade em grupos grandes, e minha família é BEM grande, fora do grupo nuclear: assim, eu vivia meio que isolado em mim mesmo, apesar das pessoas se esforçarem para fazer um clima agradável. Hoje, eu vejo com muito mais bons olhos isso, apesar de ainda ser uma pessoa que prefere grupos pequenos. 

Sendo assim, o que eu gostava dessa época, afinal? Bem, é difícil de explicar, mas os dias que antecediam o Natal eram, para mim, os melhores, até melhores que o natal em si. Existe o velho clichê de espírito de festividades permeando os lugares e as pessoas, mas acho que isso por si só não explica muito as sensações. Posso dizer para você, leitor/a, que o que eu mais gostava era andar nas ruas molhadas pós-chuva (no Pará, em Dezembro, sempre chove), e olhar as lojas com luzes de natal, e vitrines com promoções, e as pessoas nos carros e nas ruas. 

E eu pensava, meu Deus, será que o Natal é isso então? Uma eterna passagem de tempo num livro cósmico qualquer? E, apesar de parecer algo negativo, era bom esse momento, como estar num fluxo de pensamento de um ser superior, um pensamento que passava pela mente... e sumia. Ou talvez fosse minha eterna fixação em coisas efêmeras; de qualquer forma, era ali que eu me sentia em paz. 

Esse 2020, eu olho as ruas, pela internet ou pela sacada do meu apartamento, e não posso deixar de pensar, como sempre, em como será o natal de tantas pessoas que vejo passando ali, encolhidas, mascaradas


. Algumas sem seus entes queridos; outras no choro sentido dos que esperam, e alguns abençoados, que não sofreram nada diretamente, exceto a tensão do esperar o melhor de uma situação que não temos quase nenhum controle. Essas situações em nada se parecem com o que falei antes, mas também são uma estranha espera,. de fim da dor, que não se sabe quando nem como vai acabar. 

Então, que em 2020 recebamos o maior presente possível no momento: chegar em 2021. Por favor. 


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