Tenho pensando muito, nesses dias, sobre a perda. Aquele momento inevitável que ocorrerá na vida de todos, em algum momento, seja de um familiar, de um amigo, ou mesmo de uma pessoa que você admirava e simpatizava mesmo, por que não? Perda é perda, e os simbolismos que ocorrem são os mesmos, creio eu, embora talvez em uma intensidade menor.
A cabeça que uma pessoa tem, quando está sentindo a perda, é algo inescrutável, posto que cada um age de uma maneira específica. É por isso que é tão cruel julgar como reagem parentes e amigos num funeral, não sabemos como está a cabeça deles, não realmente. Existem formas e formas de se lidar com a dor.
Um exemplo: Lembro quando houve o funeral da minha avó paterna, tantos anos atrás. Enterramos ela por baixo de uma chuva forte, um clichê que ajuda muito a entender o momento grave da situação, acredite. Voltamos correndo para nos abrigar sob uma espécie de pergolado que ficava ali no cemitério. Quase que como um código, chegamos ali, e os parentes começaram a contar piadas e histórias engraçadas sobre a minha avó, sobre a vida dela. Eu lembro disso tão claramente, porque me pareceu uma espécie de desrespeito à memória dela.
Seis meses depois, meu tio, irmão de meu pai, falecia também. Como que por rima (mais que por razão), também chovia muito naquele dia; ajudei a carregar o caixão nas duas ocasiões, então lembro bem da sensação de andar com o pé enterrando na lama tenebrosa do cemitério, o mesmo para os dois entes queridos. Também naquele dia corremos para o pergolado, também naquele dia começaram as piadas e histórias engraçadas sobre ele, meu tio. Só seis meses tinham se passado, mas eu entendia melhor naquele dia: Era a forma deles celebrarem a memória, não um desrespeito. Aquelas pessoas não conseguiam enfrentar a dor, sem o escudo do humor.
Agora, que estamos cercados de morte por todos os lados (mais que o normal, diga-se, em um país que a morte surge pela manhã em nossa TV, como se fosse parte de um desjejum macabro), é bem claro para mim que o Brasil está em Luto. E talvez estejamos buscando, também, uma forma de lidar com ele, pelo riso ou pela dor.
Sei bem que passamos por fases de tentar esconder e seguir em frente (um clássico do Brasil), mas agora, perto do fim do ano, talvez seja a hora de buscarmos entender essa dor, essas perdas, e decidir o que fazer com elas na cabeça.
Talvez escrever uma crônica?
Havia um amigo meu que comentou uma vez comigo que o pai dele sempre dizia que no seu velório não queria pessoas chorando, mas que celebrassem a memória dele. Portanto, virou tradição na família que sempre que chega próxima a data do falecimento do pai, os filhos se organizam com os familiares para fazer uma festa para comemorar e relembrar dele.
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