Fonte: Blog Adrielson Furtado |
É estranho voltar de onde se saiu, com a cabeça de não mais retornar. Mesmo que seja uma visita, fica aquela sensação: Por que estou Aqui, se meu futuro é Ali? Qual o motivo desse retorno?
Esses eram meus pensamentos quando cheguei em Belém, alguns dias atrás, para lançar meu livro O Catálogo das Coisas Específicas (ainda a venda, entre em contato comigo para saber como adquirir seu exemplar). A viagem foi horrível, com o aeroporto bagunçado, e três horas e meia de turbulências que me impediram tanto de dormir como de ler sem sentir enjoo. Quando saí finalmente do avião, o bafo quente da cidade me acolheu às quase 3 da manhã, e eu soube, finalmente, que tinha retornado à minha cidade natal.
Tenho uma relação conflituosa com Belém do Pará. Por um lado, é onde nasci, e me criei. A maior parte da minha família está lá, com destaque, é claro, para meus pais, ainda vivendo na casa que nos mudamos quando eu ainda contava com cinco anos de idade, e meu irmão mais novo praticamente tinha acabado de nascer.
Tudo isso deveria causar um efeito de nostalgia em mim, e realmente assim acontece; apesar disso, não consigo deixar de me sentir um pouco mal quando vou para lá, porque quando passamos muito tempo em um lugar determinado, é inevitável ver ali seus triunfos e seus fracassos. Como bom católico relapso que sou, a maior parte do que vejo ali são minhas falhas, andando pelas ruas como fantasmas a demandar atenção para si, ou talvez redenção.
O leitor pode imaginar, portanto, que a maioria das minhas viagens são temperadas por essa tristeza, e é verdade. Contudo, dessa vez, as coisas foram bem diferente; talvez porque era um momento especial (meu primeiro livro solo, a primeira vez que veria meus pais depois dessa pandemia tão cruel, a primeira ve que veria minha sobrinha Maria Estela...), talvez porque os livros que tenho lido tem deixado minha mente mais aberta (James Lee Burke é um poeta da literatura policial), ou talvez simplesmente seja meu terapeuta Dr Pedro conseguindo me fazer alcançar um avanço mental maior que antes: o fato é que dessa vez, a sensação foi muito diversa de vezes anteriores.
Como posso explicar? É difícil. Existem sentimentos que nem o melhor dos escritores conseguiria pôr no papel, e eu estou longe de ser um destes. O que posso dizer é que, enquanto andava pelas ruas da cidade, acompanhado de meus pais buscando uma calça para mim (este, um tema para a próxima crônica), olhei para o céus, senti o calor, e não pude deixar de sentir uma ternura imensa pela cidade, como quando sentimos quando se vê um animal ferido andando pela calçada, machucado mas ainda belo em seu porte e aparência.
O sentimento se espalhou durante toda a viagem, e cada pessoa que eu vi, e interagi, só me fazia sentir ainda mais este carinho imenso, esta ternura profunda. Então percebi porque me sentia mal indo para Belém: a cidade não falhou comigo, mas eu sim, que pus nela a minha imagem de pecador, de culpado. Não era a cidade que era feia, e sim a minha visão de mim mesmo, que assim era.
E quando consegui ver a cidade com outros olhos, consegui me ver com esse mesmo olhar novo; e finalmente o véu do julgamento caiu de meus olhos.
Desta forma, no dia 04 de dezembro, lancei muito mais que só um livro: também lancei uma nova imagem de mim mesmo.
E você leitor, quando foi seu último lançamento?
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